domingo, julho 30, 2006

Incentivos à criatividade...

Por vezes são os mais pequenos gestos que produzem os maiores efeitos.
Depois da "saga das mini-sagas", passatempo promovido por Luís Rodrigues na mailing-list portuguesa de ficção científica, e cujo resultado pode ser consultado no site da Épica, é a vez de Ricardo Loureiro lançar um passatempo com a intenção de incentivar a escrita.

Durante a semana que vem (até à meia-noite de dia 6/8/2006) podem os interessados enviar para a lista contos com um limite máximo de 3000 palavras subordinados a qualquer tema desde que o final tenha um «twist». Óbvias referências podem ser Phil Dick, Frederic Brown, Roald Dahl, John Collier entre outros.
O melhor conto receberá um gift certificate por e-mail a descontar na Amazon.co.uk no valor de 30 libras.

O prémio é atractivo, o tema é suficientemente livre para ninguém se queixar de falta de liberdade criativa. Agora, toca a escrever.

domingo, julho 16, 2006

A cruel realidade...

Prova de que tenho andado alheio a tudo o que é serviço noticioso é que só me dei conta do que se estava a passar no Líbano quando, ontem de madrugada, vi na TV5 Monde Tripoli a ser bombardeada. Pensei que fosse um ataque terrorista. Qual ataque terrorista, qual quê, é o mundo inteiro a enlouquecer de novo!

A teia de interesses que jogam as suas cartadas em solo libanês sempre me pareceram claras, ou passariam a sê-lo depois de ler os dois últimos posts no blog da Safaa Dib, minha parceria de Fórum Fantástico, aqui e aqui. Que a comunidade internacional se tenha rendido a uma (in)cómoda posição de uma no cravo outra na ferradura já se tornou evidente há alguns anos, pelo menos tantos quantos nos separam da última leva de grandes estadistas europeus.
Serei só eu a ter a impressão que nos aproximamos perigosamente do cenário que antecedeu a 2ª Guerra Mundial? É que vejo por aí muitos Chamberlains e Ligas das Nações, pessoas que com a desculpa de estarem a lutar contra o establishment por dentro não admitem que se limitam a gerir as migalhas de quem não quer o barco demasiado agitado.

Numa sociedade de informação, somos cada vez mais influenciáveis. Nunca como agora se implementam mecanismos censórios e filtradores com um suposto ponto de apoio totalmente democrático. Ou qualquer coisa como a versão online do jornal Público, onde não se exerce censura, apenas se apagam os comentários mal escritos!
Somos o que vemos, e o que as televisões nos dão a ver é mau. Reducionista, fragmentário, pouco auto-crítico, pouco competente (sobre o Médio-Oriente, as crónicas do Henrique Cymmerman são uma estrela cadente. Mas nisto, uma árvore não faz a floresta).

E nem vale a pena andarmos a demonizar o George Bush. Quem olhar para a história dos Estados Unidos da América vê, desde a sua génese, um condão para arranjar desculpas cada vez que se podia meter numa guerra proveitosa. Nós até escapámos (embora por pouco, no séc. XX), mas já os nossos vizinhos espanhóis não se podem vangloriar do mesmo (no séc. XIX)!
Os norte-americanos (os meus amigos canadianos não me perdoariam se não os colocasse fora deste saco) defendem os seus interesses, acho muito bem. A nós, portugueses, faz-nos falta essa filosofia. Agora que os restantes, incluindo nós, nos comportemos seguindo os interesses americanos, isso é que me escandaliza e deixa estupefacto.

Há quem costume dizer que o modelo que a sociedade ocidental adoptou, e está a impor ao mundo, só terá como válvula de escape, assim como a maioria das fases civilizacionais, uma revolução. Discordo. Nunca como agora temos consciência de um bem-estar que não nos atrevemos a por em causa. Nunca como agora nos escandalizamos com as atrocidades que vemos nas notícias, mas apaziguamos a nossa alma ferida com um toque do comando remoto ou com um chequezinho de apoio a uma ONG, ou um saquinho de supermercado.
Não queremos saber de política, já nem quando nos mete a unha na carteira!

A política internacional é hoje uma navegação à vista... de certos interesses. Não é de admirar quando somos governados por self-made men, depois não nos podemos queixar de colocarem o próprio bolso acima de tudo. Compreendamos, o Povo também não ajuda, sempre pronto a abdicar do sentido crítico e das regras da boa governação, em troca de escândalos sumarentos e ascensões e quedas meteóricas. A lógica dos circos romanos funciona ainda hoje, e cada vez melhor.

E nós, os autodenominados cidadões normais, escondemo-nos atrás das nossas certezas, que na Europa significam que, depois da 2ª Guerra Mundial, nunca mais nos vamos meter noutra.
Mera ilusão, como constatei em conversa com o escritor sérvio Zoran Zivkovic, convidado no Fórum Fantástico 2005, e que me contava como a poderosa máquina mediática de Milosevic conseguiu, ao fim de algum tempo, plantar a semente até nas mentes da população mais tolerante. Não há vez que veja os ridículos comícios de Hitler que não me assuste com o que ele induziu nos espectadores, pois tenho a certeza que não passariam de pessoas normais. Afinal, não me parece que estejamos livres de nos acontecer a nós!

É que, apesar de todo o livre arbítrio que pensamos exercer, somos criaturas crescentemente influenciáveis, como já nos tinha avisado George Orwell, e previsíveis, como imaginava Isaac Asimov.

E porque este artigo só poderia terminar com um toque utópico, apetece gritar: Moderados de todo o Mundo, Uni-vos!

segunda-feira, julho 10, 2006

Fantasia R(i)al

Há por vezes pedaços de ficção literária que de ficção só têm a aparência. Tomemos como exemplo "Problemas com o Mercado", de João Ventura, que pode ser lido aqui.

Para quem conhece o João, a qualidade do presente mini-conto não constituirá qualquer surpresa. Um dos autores portugueses mais prolificos no campo da literatura fantástica (o mais?!), João Ventura tem-se notabilizado principalmente com contos curtos mordazes e eficazes, muitas vezes de clara intervenção social, assumindo a influência de escritores como Calvino e Borges, que parece conseguir publicar em inúmeros locais, sejam eles associados à literatura fantástica ou ao mainstream.

Para uma colheita regular de pequenas pérolas da sabedoria ocidental, consultem o seu blog Das Palavras o Espaço.

quinta-feira, julho 06, 2006

Um saudável faz-de-conta

Existem várias maneiras de se entrar num Universo um pouco, ou mesmo muito, diferente do nosso. Livros e filmes são apenas as duas formas mais utilizadas. Mas, para alguns, o envolvimento e a ambiência vão um pouco mais além: por várias horas bem passadas, essas pessoas tornam-se as personagens desses outros universos.
A este passatempo chama-se genericamente Roleplay (sendo "Jogos de Personagem" uma das traduções possíveis), ou RPG (de Roleplaying Games), e assume várias formas, chegando aos LiveActionRPG, uma mistura de jogo e teatro.

Dos sites portugueses dedicados à matéria, destaco o Abre o Jogo, uma comunidade portuguesa de RPG.
Conjunto de vários praticantes de RPG, é de assinalar no AoJ o clima de participação e discussão construtiva dos membros. E a quantidade de material que pode ser encontrado nas suas várias categorias e secções.

Mas esta nota serve também para divulgar um jogo em particular, de vários que parecem querer nascer no AoJ.
Criado por Rui Anselmo, o The 101 é, nas palavras do autor:

"[...] um jogo de conspirações mundiais e acção intensa, baseado nas obras de John Woo, que nos dá a técnica hoje sobejamente usada em cinema chamada Wire Fu, da qual o Matrix é o mais conhecido exemplo, de Ken Hite, mestre da História Secreta e Alternativa, escritor, entre outros, de vários suplementos para GURPS e da rubrica Suppressed Transmissions, e, por último mas não em último, da mente perversa de Warren Ellis, o britânico escritor de comics, sobejamente conhecido pelo seu trabalho em The Authority, Planetary, e a maior influência aqui, de Global Frequency.
The 101 RPG retrata o trabalho de uma organização chamada The 101, nome que significa não só o número de operativos que a organização emprega a nível mundial, todos com a sua especialidade diferente e todos igualmente úteis, mas uma sigla que significa Guia ou Introdução, e pretende ser uma piada interna ao trabalho que desenvolvem.
The 101 RPG é um jogo onde convivem diariamente L. Ron Hubbard, o Santo Graal, Bin Laden e a CIA, Maçonaria, Àrea 51, e tudo o mais que conseguem imaginar ou ler nos jornais. Aqui, fazem-se experiências para viajar para mundos imaginários, constroem-se bombas de despopulação, OVNIS chegam do futuro, lobisomens uivam à Lua, e sabe-se a verdadeira razão do 11 de Setembro. E é com tudo isto que lida o The 101. Para que estas notícias permaneçam nos tablóides. E a única maneira de o fazer é com um pontapé de Kung Fu em cheio na cara.
O operativo da The 101 é um homem ou uma mulher com capacidades físicas, intelectuais, e por vezes sobrenaturais, que o coloca num patamar muito acima do humano mortal. Alguns deles não podem sequer continuar a ser chamados humanos, embora mantenham essa aparência, enquanto outros não são mortais, embora finjam a própria morte. Todos eles são especialmente treinados para intervir no terreno, seja em combate corpo a corpo, seja em negociação activa de reféns, seja em assassinato. O operacional do The 101 é também a pessoa mais cool à face da Terra: seja a gabardine preta até aos pés e as duas Uzi, seja a cicatriz na cara, seja o passado misterioso, seja a katana em plena cidade, ou ainda o facto de segurar uma bola de fogo na mão direita e estar com um sorriso pirómano na cara.
O The 101 RPG é sobre essas pessoas e o mundo de conspirações onde vivem, e agora vais ter oportunidade de ser um deles."


Uma distilação inteligente e bem-humorada de vários temas e mecânicas conhecidas, é sem dúvida um jogo que apetece jogar.
Para mais informações sobre o jogo, e quem sabe para participarem na criação do mesmo, visitem-no aqui.

terça-feira, julho 04, 2006

Voltando...

Depois de uma fase de muita actividade no mundo real, começo a voltar aos poucos à esfera virtual...