Uma viagem que nos traz de volta...
Nunca fui de filmes simples, banais, mundanos - talvez daí o gosto pelo Fantástico.
Mas, quem sabe fruto do passar da idade (um dos males das pessoas que, como eu, mantêm dentro de si uma eterna criança é acharem que a idade resolve alguma coisa, mas isso é assunto para outro dia!), acho que passei a ser mais atraído (atraível!) por certas obras que sabem fazer sobressair de uma ambiência totalmente realista a essência transcendental do ser humano.
(o que talvez torne redundante a Fantasia, mas, de novo, isso é outro assunto!)
Tudo isto a propósito de Darjeeling Ltd., um filme de Wes Anderson que tive o prazer de ver recentemente.
Seguindo a viagem de três irmãos americanos que após o afastamento da mãe, a morte do pai e uma inevitável quebra de relações por incompatibilidade de personalidades (ou deverei dizer de comportamentos?), embarcam numa viagem de comboio pela Índia, impulsionados como seria de esperar por uma demanda, que depressa arrastará muito mais que isso, não menos importante o reencontro dos três consigo próprios, com os outros e com o Mundo.
Dito assim, até parece um argumento entre milhentos, mas Wes Anderson (e Roman Coppola e Jason Schwartzman) conseguiram transformar esta viagem numa despretensiosa, bem-humorada e arejada comédia de costumes, dando o necessário twist por vezes cómico por vezes trágico ao que geralmente nos é dado a consumir como um manual de entre-ajuda de pacotilha.
Com uma realização impecável, e uma direcção de fotografia deslumbrante, este filme assenta também no brilhantismo dos personagens envergados por um elenco de fabulosos actores. Desde os três irmãos - Francis, Peter e Jack Whitman (Owen Wilson, Adrien Brody e Jason Schwatzman) -, cada um com os seus tiques, físicos e mentais, cada um a recuperar de um trauma físico e mental, ao enigmático homem de negócios que enquadra misteriosamente a narrativa (Bill Murray), aos empregados do comboio, à figura de Natalie Portman, mistura de frágil mulher fatal e cruel tentadora, ela própria enredada na sua teia, ferida de morte pelo seu veneno, ao instinto maternal problemático da mãe dos irmãos (Anjelica Huston), toda a narrativa respira humanidade e verosimilhança. Uma humanidade que, nascendo dos pequenos gestos, leva aos grandes estados de alma.
No final, não nos custa sair da cadeira e do cinema. O Mundo lá fora cheira a especiarias e a promessa de brisa fresca na cara... e uma multitude de possibilidades. E seria uma pena perder tudo isso!
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