Ainda há esperança para a Europa...
Não, realmente não sou um espectador atento do Festival Eurovisão da Canção.Nem da edição portuguesa, onde há muitos anos reina o compadrio e a incapacidade/recusa de apresentar candidatos válidos e aproveitar para dar a conhecer novos talentos (sobre isto foi interessante a entrevista que ouvi recentemente ao Fernando Tordo na RDP1. Querem acreditar que no tempo "da outra senhora", na ditadura, as candidaturas eram abertas a todos e as submissões eram apresentadas de maneira ao júri ouvir apenas a gravação da parte instrumental + leitura das letras, para não poder identificar os autores/intérpretes?) nem da edição internacional, com a habitual endogamia de votos entre blocos de países vizinhos.
Mas, aparentemente, 2006 veio mostrar que, apesar de estar tudo na mesma, nem tudo ficou igual.
Daqui de Portugal seguiu uma paupérrima girlsband, NonStop, que, com inaptidão vocal, visual pindérico e desenvoltura de cepo, acabou por não passar da fase eliminatória e dar uma ideia miserável do património musical do país. Por outras palavras, voltámos a ser roubados na Eurovisão pelo Lobo Mau Europeu.
Terá a RTP aprendido a lição? Aposto que não.
Na final do concurso, transmitida no passado sábado, dois países decidiram gritar que "O Rei vai Nú".
Da Lituânia, o grupo LT United apresentou-se com a canção "We are the Winners (of the Eurovision)", cuja letra limitava-se a apelar directamente ao voto na sua música. Uma actuação desinibida, de humor mordaz, que lhes valeu uma certa inimizade dos jornalistas e público gregos, mas que se reflectiu num 6º lugar.
A cereja no topo do bolo foi a vitória da representação da Finlândia, o hard-rock/heavy metal dos Lordi. Com uma música que me pareceu decalcada das melodias e letras características de bandas como os Manowar e efeitos vocais de King Diamond (ou seja, uma intervenção soft e com nada de novo para os adeptos do género), os Lordi transformaram o palco da Eurovisão em algo parecido com um showroom da Weta, os responsáveis pelos efeitos visuais da adaptação cinematográfica do Senhor dos Anéis de Tolkien. Uns verdadeiros The Travelling Singing Uruk-Hai!
Num concurso em que imperam as baladas e a música pop, o rock entrou de rompante e levou o prémio máximo para casa. E com o bónus de ter acompanhado em directo o quase ataque de coração do "nosso" Eládio Clímaco, que deve ter passado por todos os tons de verde e cinzento enquanto fazia por digerir o facto (para ele inacreditável e escandaloso!) de toda a Europa estar rendida a esses "monstrinhos". Mais uma demonstração de que por cá se continua a cultivar a mesquinhez e o preconceito (mas não generalizando, já que Portugal deu 6 pontos aos finlandeses).
Quem foi sabendo da campanha underground que corria a internet nos dias antecedentes ao concurso, deu-se conta que ia acontecer algo de mágico. É no que dá combinar o poder da internet com a imprevisibilidade da votação telefónica.
É com satisfação que vejo tanto o Heavy Metal como o Fantástico a serem utilizados de forma tão subversiva e eficaz.
Agora, espera-se das autoridades competentes que seja encontrada uma forma de votação mais... democrática. Até lá, Hard Rock Hallelujah!
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