quinta-feira, abril 15, 2010

A Alva Arte de Postar


Cada vez mais aspectos da nossa sociedade são alvo de tentativas de sanitização. Seja pela imposição do politicamente correcto, do bem-parecer, ou outra razão qualquer, a picardia de outrora, a oratória inflamada mas direccionada por um apurado sentido de crítica, caíram em maus lençóis; acabando por, qual tribo índia acantonada numa reserva federal, subsistir maioritariamente por sua própria conta e risco.

É ponto assente que o (bom) uso da ironia é sinal de pessoa inteligente, o que, por si só não dá indicações do carácter do indivíduo. Assim, enquanto alguns se deleitam a saltar para a arena, rodeando destemidamente o pano vermelho, desafiando outros a um combate de argumentos bem perto dos primórdios do boxe (onde o saber encaixar-se os golpes era tão crítico como a ofensiva), outros preferem o veneno destilado a coberto da sombra.
Quanto a esses últimos, uma única constatação: quem assim se acomete, é porque prefere dar de si outra imagem pública, a qual se importa de manter. Alguém só se esconde na sombra quando valoriza a máscara que mantém perante outros. Esta estratégia cedo ou tarde falha, até um ditado popular o vaticina, e geralmente a pessoa em causa vai saltitando de grupo em grupo, inevitavelmente ganhando fama idêntica em todos eles.

Depois existe ainda um grupo, o dos elefantes pitosga em loja de cristal. Aqueles que, quando se sentem acossados, interpelados, contrariados, questionados, ou quando sentem saudades de doutrinar os concidadãos, se lançam numa espiral de insultos e vitupérios, diatribes de imbecilidades.

Entre estes dois últimos grupos nem sei bem qual prefiro. Se a assumpção das acções, por mais grunha que possa ser a forma, é de louvar, é um beco-sem-saída. Com estas pessoas não se pode argumentar, não se pode racionalizar... por vezes nem se pode fugir a tempo dos perdigotos! Com os outros, os da sombra, do anonimato, acontece o inverso. Se a sua embustice lhes facilita o insulto, a nós, se exercermos a premissa de lhes responder, aumenta-nos a margem de manobra para "descer o pau", ou para simplesmente os ignorar. Além disso, estilos e motivações reconhecem-se ao fim de algum tempo, e é sempre bom ter uma noção do que algumas pessoas são capazes.

Vem todo este discurso a propósito da (mais recente, yet again) vaga de agitação no fandom nacional do fantástico. Caída a discussão na praça pública, já um embrulho de discussões, demonstrações de egos insuflados, e declarações de fatwas várias, ouvem-se vários apelos para um controlo e identificação dos comentários nos vários sites do género.
Um facto que parece escapar a quem pede esta medida é que, neste mundo virtual, qualquer um de nós pode criar uma "identidade" alternativa. Ou seja, um comentário "registado" é um endereço de email, numa tecnologia que permite um número quase infinito deles, não um nº de BI.

Por mim, prefiro manter aqui os comentários abertos. E comentá-los, se assim o achar indicado; aqui ou em qualquer outro blog de "sinal aberto". Mesmo que isso faça de mim, aos olhos de alguns zelosos de serviço, um «imbecil».

A net tem destas coisas. Vivam com elas!

4 Comments:

At 4/15/2010 5:32 da tarde, Blogger Álvaro de Sousa Holstein said...

Rogério, acho que realmente a solução não passa pela censura. Concordo contigo.

 
At 4/15/2010 7:20 da tarde, Anonymous Flávio Gonçalves said...

Bom, por experiência própria tenho notado que quando é necessária um qualquer registo por norma acabam-se os insultos.

Sou contra o anonimato por uma mera questão de conseguir saber se o insulto do anónimo que comentou às 13h15 foi repetido pelo mesmo às 16h30 ou se se trata de outra pessoa qualquer.

 
At 4/17/2010 12:49 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Eu não censuro. Querem comentar besteira, comentem besteira. Querem insultar (como já me aconteceu no blog) e o mais provável é fazer circular um link entre os amigos para gozar com a situação. Ou então faço melhor, ignoro.

 
At 4/17/2010 10:20 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Eu nem sequer tenho ainda uma posição bem definida acerca do assunto. Por um lado não concordo com nenhum tipo de censura. Por outro acho de franca má educação arrotar postas sem identificação. Mas o que me chateia é o fundamentalismo de quem carimba todos os outros se não fizerem o que eles próprios apenas recentemente decidiram fazer.

 

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