sexta-feira, maio 06, 2011

Os Doze Reinos - Resenha

Paulatinamente, Madalena Santos desenvolveu e completou a saga d'As Terras de Corza. Iniciada em 2006 com O Décimo Terceiro Poder, e prosseguida com A Coroa de Sangue (2007) e As Tribos do Sul (2009), esta série foi recentemente encerrada com este Os Doze Reinos (2010); todos publicados pela Gailivro, e desde aí incluídos na sua colecção 1001 Mundos.


Quer analisando este último volume em particular, quer pensando na série como um todo, estamos perante uma obra de fôlego invulgar, executada com uma competência e uma perseverança anormalmente sólidas, e com uma densidade de tratamento de personagens e de aspectos sociais e políticos que permite apontá-la como merecedora de maiores análises e aprofundamentos, inclusivamente académicos.
Efectivamente, apesar de cada um dos três volumes anteriores estar assente no vigor de uma personagem principal, a verdadeira “estrela” de cada um deles é na realidade a época e a sociedade que essas personagens habitam. O cenário deixa de ser estático, como em muitas sagas deste género, sendo uma verdadeira força motriz das personagens e das situações.

Falando no género, convém esclarecer do que se está a falar. Ao primeiro volume, O Décimo Terceiro Poder, não haverá dificuldade em atribuir o denominador de Fantasia Épica. Apesar de nele não figurar magia, o ambiente da narrativa adequa-se a este género, para além de sugerir levemente alguns mitos criadores que mais uma vez ajudam a estabelecer essa atmosfera. É nele que se lança também o arco narrativo relacionado com a figura principal do último volume, Corza; em eras (volumes) subsequentes referido com uma crescente aura mítica. E são precisamente essas referências que, aliadas à grandiosidade de cada uma das “revoluções sociais” a que assistimos no decorrer dos volumes, vão ajudando a manter a série dentro desse registo épico.

No entanto, quando, como leitores, nos habituámos a percepcionar a figura de Corza como um mito, e a aguardar por um revelar quase místico no retorno ao Início prometido para o último volume, quiçá pelo retomar dos tais mitos criadores, eis que Madalena Santos nos surpreende, e diz literalmente: Ecce Homo!

Mas antes de chegarmos a Corza, a autora prepara-nos ainda outra surpresa. É que não é este o Escolhido, ungido pelos Deuses e inquestionável líder dos Homens. Esse papel parece mais reservado a Teldius, o Primeiro Rei, de quem Corza é um fervoroso pilar.
Não querendo introduzir aqui qualquer spoiler, bastará dizer que Teldius permitirá eventualmente sublinhar ainda mais o carácter humano de Corza, principalmente nas suas contradições, fraquezas e opções. Nem sequer um anti-herói, Corza revelasse um homem capaz de se entregar totalmente à prossecução de um objectivo, mas que ao mesmo tempo permite que a sua moralidade seja modulada perante novas ambições e desejos.

O livro Os Doze Reinos fecha com chave de ouro a série As Terras de Corza. Para além de reafirmar a capacidade da autora de manusear simultaneamente várias culturas e intrigas políticas e militares, mostra-nos a sua capacidade de convincentemente “entrar na cabeça” de uma personagem masculina com a complexidade presente em Corza, juntando-se esse sucesso a outras personagens (femininas) marcantes, como Neferlöen (O Décimo Terceiro Poder) ou Tyrawen (As Tribos do Sul).
Para o fantástico nacional fica certamente uma série de extraordinário alcance; como fantasia épica, como efabulação geopolítica, como guia de viagens exóticas, e como envolvente romance de personagens.

2 Comments:

At 5/28/2011 4:49 da tarde, Blogger Flávio Gonçalves said...

Aproveito para sugerir um livro de autor nacional a sair pela Quetzal, http://quetzal.blogs.sapo.pt/276121.html

 
At 5/28/2011 5:56 da tarde, Blogger Rogério Ribeiro said...

Obrigado, Flávio.

Já tinha conhecimento, e aliás já se podem encontrar alguns excertos divulgados pelo autor.

Abraço,
Rogério

 

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