quinta-feira, setembro 17, 2009

Bons inícios...

As a publisher, I never forget seeing the typescript of Ken MacLeod’s debut, The Star Fraction. I knew from two pages in that it was truly wonderful,[...]

Vem esta citação a dois propósitos.

Primeiro, faz parte da uma interessante entrevista feita a John Jarrold, provavelmente um dos mais conhecidos agentes literários dentro da literatura fantástica anglo-saxónica. Ao contrário do que acontece no panorama lusitano, à generalidade dos autores de língua inglesa é incutida a necessidade da função de agente/editor como alguém que, com um olhar estritamente profissional, consegue poupar os escritores de alguns escolhos mais comuns, tornando ao mesmo tempo a obra mais acessível ao público-alvo (e, meus amigos, não me venham criticar o aspecto "comercial", que quem quer escrever só para si, que escreva para a gaveta!).

Segundo, vem a propósito de andar a ler o Orbias - As Guerreiras da Deusa, do estreante Fábio Ventura. Nunca será demais sublinhar, como refere John Jarrold, que o início de qualquer livro funciona como a sua montra. Quem está habituado ao género, consegue avaliar em poucas páginas a competência da escrita, o ritmo da narrativa, o mérito da obra. Quem lê com frequência, tem provavelmente vários livros em lista de espera, e pouca paciência para perder tempo em obras menores. Assim, tornou-se conselho comum para os autores mais inexperientes que as primeiras páginas de um livro devem merecer especial atenção, como se da abertura de uma ópera se tratassem. Ora, este conselho tem tanto de batido como de ignorado. E no caso do Orbias, este "pecado" parece ter sido duplo.
O início do livro tem diálogos pobres, formulaicos, de uma inacreditável lamechice. A descrição é surreal (quem o tiver começado a ler apanha o trocadilho), as situações são forçadas, a "voz interior" dos personagens é inconsistente e errática na forma como interage com as situações. E, no entanto, à medida que se vai avançando no livro a coisa parece começar a melhorar ligeiramente. Apesar de não ter entrado ainda muito no livro, esta desconfiança vai de encontro à opinião da Joana Cardoso, que já o terminou.

A minha questão primária aqui é que, se não fosse pela minha motivação adicional de ler um novo escritor português de literatura fantástica, o que já li do livro até agora ter-me-ia feito nunca o comprar. Independentemente da "pérola" que poderá estar, ou não, ainda por vir nas páginas restantes. E isso, para alguém que tenciona ser um autor publicado, não será propriamente a melhor coisa...

11 Comments:

At 9/17/2009 4:47 da tarde, Anonymous Sofia Patrício said...

Não pude deixar de comentar este seu post.
Acho que devia ser um pouco mais compreensivo com as outras pessoas. Primeiro, eu sou uma daquelas pessoas que você fala que lê com frequência, sim tenho montes de livros em "lista de espera" mas não foi por isso que deixei de ler Orbias. Não é uma obra menor, acredite que li coisas que sim sao consideradas muitosss menores.
Assim que comecei a ler Orbias não consegui parar e conheço muita gente com a mesma opinião, sim respeito a sua opinião porque nem todos podem gostar das mesmas coisas. Mas... acho que foi um pouco cruel com um escritor jovem, sendo que esta é a sua primeira obra. Alguma vez pensou em se colocar no lugar do mesmo, ou mesmos? Alguma vez pensou em escrever uma obra? Já pensou que escrever uma obra não é para todos e que se aprende ao longo do tempo a corrigir.
Depois do o ler novamente, agora com uma nova calma, acredito que o autor em questão tenha notado as suas falhas e que as vá corrigir assim que surgir a oportunidade.
Aconselho-o vivamente a ler o livro até ao fim e depois sim criticar o que tiver a criticar.
Peço desculpa por este longo post e ter roubado um pouco do seu tempo.
Boa Leitura.

 
At 9/17/2009 9:31 da tarde, Blogger Luís R. said...

"Alguma vez pensou em se colocar no lugar do mesmo, ou mesmos? Alguma vez pensou em escrever uma obra?"

Não está nas funções do crítico literário ser a mãe do escritor.

"Depois do o ler novamente, agora com uma nova calma, acredito que o autor em questão tenha notado as suas falhas e que as vá corrigir assim que surgir a oportunidade."

Uma crítica é feita ao livro tal como ele é, não como ele podia ou poderá vir a ser. Isto porque as pessoas estão a comprar um livro que se encontra concluído e numa forma mais ou menos imutável, e que não é (1) aquele que o autor gostaria de ter escrito, nem (2) aquele que decerto irá escrever daqui a vários anos. Independentemente do que o autor possa ter aprendido com a experiência, e a menos que tente reescrever melhor a história para oferecer aos leitores insatisfeitos, o mal está feito e à vista de todos, e sendo assim qualquer aviso contra a compra do título em questão só pode ser considerado serviço público.

 
At 9/17/2009 9:40 da tarde, Blogger O Assistente said...

Cara Sofia,

Se não estivesse tão concentrada em defender o autor e lesse o post do Rogério com mais atenção, saberia que ele não diz em lado nenhum que o Orbias é uma obra menor, até porque admite que ainda nem acabou o livro.

A questão abordada é o facto de o início do livro ser tão fraquinho aos olhos do Rogério a ponto de isso desencorajar potenciais leitores, o que é uma questão bastante pertinente. Nem todos têm a paciência, vontade de começar a ler um livro que não seja bem escrito e interessante desde as primeiras páginas.

E em lado algum está escrito que temos que ser mais condescendentes e fazer vista grossa às fragilidades da primeira obra de um jovem escritor. O facto de ele ser publicado devia aliás tornar o autor mais responsável e cuidadoso na sua escrita, em suma, mais exigente consigo próprio.

E claro que escrever uma obra não é para todos. Tomara que metade dos aspirantes a escritores que andam por cá se convencessem disso.

 
At 9/18/2009 9:52 da manhã, Blogger Rogério Ribeiro said...

Cara Sofia,

Obrigado pelo seu comentário.

Como já se deve ter dado conta, a minha intenção não foi a de ser cruel ou incompreensivo, apenas factual.
O valor de uma obra não cresce por haverem outras muito piores. Pelo contrário, qualquer autor devia querer comparar-se sempre com os melhores. Mas mais que isso, devia procurar o seu valor intrínseco.

Não duvido que o Fábio o tenha feito, pelo esforço que é criar um livro com esta dimensão e pela coragem de o pôr cá fora. Mas, ao fazê-lo, escolhendo publicá-lo e não deixá-lo na gaveta para seu único deleite, a questão crucial não é os leitores colocarem-se no lugar do autor, para lhe "perdoarem" as falhas, mas o autor colocar-se no lugar dos leitores (que gastam dinheiro a comprar a obra, este factor não será concerteza nada negligenciável!), para evitar que eles se sintam defraudados.

Como ainda não terminei o livro (e sim, continuo a lê-lo, Sofia, nada no meu post indicia o contrário), deixo para essa altura a conclusão quanto ao dinheiro e o tempo dispendidos terem ou não valido a pena.

Agora, o que me causa pena, e é nesse sentido que vai o post, é que a qualidade subjacente ao inicio do livro está, no meu entender, mais para afastar leitores do que para os atrair. E, já que a qualidade parece ir melhorando, isso significa que houve da parte do escritor, ou do escritor e do editor, uma falta de zelo que a mim, como leitor, me entristece.
O post teve como ideia central o facto do inicio de qualquer livro ser a sua montra, e necessitar de uma atenção especial.

Eu também escrevo e não temo as críticas ao que publico. Ceús, eu sou provavelmente o primeiro a encontrar-lhe agora inúmeras falhas. E sei também que por vezes perdemos a capacidade de discernir certas falhas no nosso trabalho. Por isso sei o valor que dou às opiniões de quem lê o que escrevo. Por isso quis referir especificamente o papel do editor.

Esperemos que o Fábio se revele um grande valor como escritor, e que vá evoluindo de obra em obra. Mas isso nunca será "desculpa" para os erros cometidos nas anteriores. E creio que ele terá mais a ganhar se esses erros lhe forem apontados (e claro que leitores diferentes terão opiniões diferentes, cabe-lhe depois a ele filtrar as que ache terem sentido), do que com palmadinhas nas costas e "compreensões".

Rogério

 
At 9/18/2009 12:24 da tarde, Blogger R.B. NorTør said...

Cara Sofia, o Rogério defende inclusivamente a figura do editor como alguém que deveria dar esse conselho ao autor.

Escrevo textos pequenos desde sempre, não publiquei nada, mas guardo sempre as palavras que uma professora de inglês me disse: "Se não prenderes o corrector [os textos inseriam-se em exames] com o primeiro parágrafo, todo o texto é avaliado por baixo."

Por exemplo um autor que pensei a dada altura que deixava a desejar foi o Robert Jordan. Quando comecei a ler o The Eye of the World (Book 1 of the Wheel of Time) se não fosse pelo prefácio e pelo capítulo 1, nunca teria acabado o livro. O que me teria impedido de neste momento estar a começar o quinto volume da saga...

Adiante... O facto de não se ser publicado, não nos exclui automaticamente do domínio no qual podemos criticar e apontar defeitos. Aliás, se os autores querem evoluir, têm de estar receptivos a ouvir críticas. Dizer que o início está fraco, os diálogo têm a profundidade de uma poça de água em Agosto, etc, etc, é apontar defeitos muito particulares que devem ser encarados como caminhos e não obstáculos. Na questão dos diálogos fracos ainda hoje tenho pesadelos com a Manopla de Karasthan (ou lá como se escreve), de Filipe Faria de tão fracos que são (e não só no início...) e no entanto o livro faz parte do plano nacional de leitura e recebeu prémios... Entre autores medíocres, que são publicados e recebem prémios como incentivo e aqueles que têm de penar porque as suas obras têm de passar num crivo fino, prefiro os últimos...

 
At 9/18/2009 3:06 da tarde, Anonymous Joel Puga said...

Para evitar duplicação de informação, remoto-vos para a minha opinião no bbde sobre o nick de shadow_phoenix

http://www.bbde.org/index.php?showtopic=7390&st=45

 
At 9/18/2009 11:37 da tarde, Anonymous Carla said...

Tenho que comentar a crítica que acabei de ler porque não considero que seja tão negativa como pode parecer.
Conheço o autor e tive o privilégio de ler a primeira versão de "Orbias". A minha opinião pode ser considerada tendenciosa mas sei que, até à publicação, foram feitas muitas revisões, muitas correcções e o autor fez um esforço bastante considerável para melhorar a obra enquanto procurava uma editora que apostasse no seu trabalho. A versão publicada, longe de ser uma obra menor, é um livro que se lê muito bem e que tem ideias muito originais. Por isso gostei de o ler logo na primeira versão.
Claro que tem defeitos, como têm muitas primeiras obras. E concordo que o início de um livro é muito importante para cativar o leitor e podia ter sido melhor trabalhado.
Acho que o autor só tem é que agradecer todas as críticas - quem critica é porque leu e se interessou o suficiente para comentar. Além disso, ninguém pode melhorar sem que lhe sejam apontados os defeitos.
Espero que leia o livro até ao fim e que publique nova opinião sobre o mesmo. Positiva ou negativa, a opinião dos leitores é essencial para a evolução do escritor.
Boa leitura!

 
At 9/19/2009 9:06 da manhã, Blogger Rogério Ribeiro said...

Obrigado, Carla.

Fica prometida uma opinião final.

Rogério

 
At 9/19/2009 9:08 da manhã, Blogger Rogério Ribeiro said...

Tenho a impressão que o Joel se enganou no link!
Não será antes este?

http://www.bbde.org/index.php?showtopic=8406

Um abraço,
Rogério

 
At 9/19/2009 12:01 da tarde, Anonymous Anónimo said...

E já que se fala de autores jovens e portugueses e para continuar a conversa por outro caminho, onde acho que o Rogério Ribeiro está mais informado visto que aparecia no convite do último lançamento como um dos intervenientes na mesa, que tem a dizer das Terras de Corza? Sofre do mesmo? Nos três? Ou só no primeiro?
Ando interessado nessa saga...

Abraço,
Miguel

 
At 9/21/2009 2:42 da tarde, Anonymous Raquel said...

Comecei a ler o 'Orbias' há uma semana atrás. O estilo de narrativa e o universo em que decorre a acção que me lembrou de Sailor Moon, não me agarraram o interesse. Aliás, acabaram por ter o efeito oposto.

A partir do que li (admito que não passei de um terço do livro), penso que se calhar seja mais indicado para leitoras adolescentes do que para jovens adultas/os e idades acima disso. Se calhar foi por isso que não me agradou. Não sei se é esse o público alvo do autor, mas se sim, desejo-lhe boa sorte com livros futuros, embora não me veja a investir neles.

Este fim de semana pus as mãos no 'A Estirpe' que passou a ser a minha leitura principal. Não tenciono acabar o 'Orbias'.

 

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