ContraLuz, uma resenha a quente...
Por onde começar?
Talvez por: Fernando Fragata loves Philip K. Dick! E assim, meus amigos, só se pode começar bem.
Conhecendo o trabalho do realizador principalmente através do registo de comédia, este ContraLuz foi uma autêntica surpresa. Não que não tenha os seus momentos de humor, obviamente, mas porque se aproxima muito mais de um registo de filme fantástico indie, tendo-me trazido à memória, em momentos, um Primer ou um Magnólia.
Ao contrário do que se poderia temer, por ser um filme português filmado nos Estados Unidos da América, não é uma cowboiada martelada nem um deslumbramento provinciano. Aliás, as cedências que faz mais a custo parecem ser de carácter visual para reafirmar alguns pormenores materiais relevantes para a história, talvez a seguir a máxima norte-americana que coloca a preguiça mental do espectador "médio" em alta estima. Mas nada que não seja tolerável para o espectador atento, mesmo que acompanhado de um ténue sorriso escarninho.
Por outro lado, o carácter visual é uma das forças do filme, na forma como a paisagem é utilizada para imergir o espectador. Da mesma forma, o enredo e os diálogos vão permitindo criar um crescendo de tensão que, mesmo sendo relativamente fáceis de antever, resultam no real envolvimento emocional do espectador. Mesmo que Joaquim de Almeida não consiga deixar de ser ele próprio, Michelle Mania e Skyller Day acabam por impôr-se numa relação conturbada de mãe e filha, Scott Bailey é competente apesar de fugaz, Evelina Pereira marca pontos e Ana Cristina Oliveira é perfeitamente hilariante.
O enredo é realmente uma boa surpresa, mesmo que não tremendamente original para o género fantástico em cinema e, principalmente, em televisão. No entanto, há várias linhas e mensagens que me surpreenderam.
Não entrando em pormenores, já que o filme vive muito da forma como os vários fios narrativos acabam por se entrelaçar, e focá-los iria certamente estragar o filme a quem o fosse depois ver, surpreende a apologia que é feita em vários momentos em favor da literatura fantástica. Mais, a defesa, perante os cinéfilos, da necessidade de ler as obras, e não só ver os filmes.
Também surpreende, numa indústria cinematográfica que nem sempre coloca a consistência como prioridade, que o argumento explore de forma equilibrada as facetas positivas e negativas dos temas que toca, não se contentando com as respostas imediatas.
Não sendo uma obra perfeita, é uma obra que, como um todo, se mantém muito bem, orgulhosamente, de pé. A juntar a isso, resiste à tentação de explicar tudo; o que garante que saimos do cinema com várias questões que nos vão rodar na cabeça durante muito tempo, ou que vão dar debates acesos entre as interpretações de cada um.
A expectativa era alta, devido a ter-se mantido o segredo sobre grande parte do argumento até agora. Era bom que se mantivesse assim. Este filme é melhor apreciado quando se parte para ele sem ideias pré-concebidas, e com alguma abertura que permita que o filme nos vá conquistando, já que tem um ritmo próprio, bem diferente se comparado com as opiniões que esperavam uma "americanada".
Em resumo, dei por bem empregue a ida à ante-estreia, serei certamente comprador do DVD, e, apesar da utilização de certos clichés, penso que o ContraLuz é já um marco no cinema fantástico português.
Mas não esperem pelo DVD, ou pela cópia pirata! Quem não o for ver ao cinema, não é um verdadeiro fã de cinema fantástico!
PS: Ah, é verdade, Luís, o Joaquim de Almeida tira o casaco! ;)
1 Comments:
quando sai em dvd?
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