A Estrada e a Catacrese
Once more unto the breach, dear friends, once more,
Or close the wall up with our […] dead!
In peace there's nothing so becomes a man
As modest stillness and humility,
But when the blast of war blows in our ears,
Then imitate the action of the tiger:
Stiffen the sinews, summon up the blood,
Disguise fair nature with hard-favored rage…
“Henrique V”, de William Shakespeare
Não será surpresa que o presente post só existe como reacção ao comentário Hipérbole e Consequência, que João Seixas lançou recentemente no seu blog.
Uma reacção que não pode deixar de ser empática, pela frontalidade e pelas preocupações evidenciadas no post original, mas também feroz, pelas inconsistências e deambulações que, voluntária ou involuntariamente, descambam no tecer de uma efabulação; que poderá ter alguma valia teatral, mas pouca utilidade prática.
Num sentido mais lato, serve também o presente texto para exorcizar um sentimento que me acompanha há algum tempo; fruto principalmente de alguns comentários que, vindos de outros cantos deste universo fantástico nacional, igualmente frontais ou nem por isso, se têm traduzido em ideias próximas das expressas agora pelo João.
O primeiro equívoco que a releitura do comentário do João me suscita apontar é o da apropriação do “universo” das resenhas originais, intentando revesti-las de um carácter evangelizador e dogmático que lhes é alheia. Só assim se explica o longo preâmbulo onde se tenta fundamentar a perniciosidade das supostas hipérboles; misturando nelas questões de apropriações ilegítimas ao género e de louvores às obras de má qualidade e duvidoso gosto.
Aliás, a questão da inclusão no género foi devidamente fundamentada, principalmente no caso do livro do Pedro Ventura, dado a minha opinião ser curiosamente de certa forma oposta à veiculada pelo próprio autor em diversas ocasiões públicas.
Quanto à questão da qualidade, encontra-se inerente às resenhas publicadas, sendo pesada através da análise dos seus méritos e deméritos, não me parecendo que a cada resenha de um livro (considerado por mim) com qualidade deva corresponder uma comparação ponto-por-ponto com as obras que (também eu) considere como as de referência no género. Imagine-se o ridículo de tal exercício.
Apresentando-se então em ambos os casos as razões para a inclusão no género fantástico, e num patamar não negligenciável de qualidade intrínseca, restava esperar pelo contraponto a esses argumentos.
Aqui, até se me arrepiam os pêlos da nuca. É que afinal, se uma das obras não foi lida, a outra é remetida para um limbo argumentativo, encaracolado sobre si próprio. Assim, esvaziada a relevância do erudito intróito do comentário do João para a presente discussão, seguimos para a clarificação da dimensão dos panegíricos às obras em causa (apanhando por tabela as questões associadas ao exercício da crítica).
Assumo aqui a minha falta de formação académica na área das Letras e Humanidades. Praticante das esotéricas artes das Ciências Biológicas, sempre vi a “palavra” como estando ao serviço do significado, esforçando-se por resumir e conter, geralmente mais austera que a total extensão do facto que ilustra. Bem sei que noutras áreas a “palavra” é rainha, desenhando diáfanos floreados que ganham vida própria, por vezes bem além do facto inicial. Talvez por isso me sinta tão à vontade para escalpelizar as supostas hipérboles: se para certos leitores foram imperdoáveis abominações, para mim não passaram de constatações factuais. E contra factos…
A série As Terras de Corza abarca quatro volumes, publicados em cerca de cinco anos. Ambientada num universo inventado, na sua maioria imbuída de um tom de fantasia épica, apresenta-se desde início com especial consistência e originalidade. Dando de barato a idade da autora, ressalta na obra um rico conteúdo reflexivo, nomeadamente sobre o papel da mulher, e a natureza da conquista e manutenção do poder, entre outros temas que perpassam a série. Outro facto não negligenciável é a competência com que o arco da história foi iniciado, percorrido e encerrado; concedendo-lhe um esqueleto que efectivamente cimenta a saga numa obra única e coerente.
Contrariando o deslumbramento que poderia advir a uma autora tão jovem, a história não se desvia da sua espinha-dorsal, o que faz com que muitos temas sejam apenas aflorados no que impactam directamente nos personagens, apesar de se intuírem maiores ponderações e motivações da autora nos bastidores. Daí a minha referência a «maiores análises e aprofundamentos»; e porque, quanto a mim, cabe ao crítico opinar sobre o que consta na obra, o que lhe está imediatamente circundante, e, acima de tudo, a sua percepção informada como leitor, e ao académico extrapolar mais substancialmente sobre tradições, tendências e motivações, adicionei «inclusivamente académicos».
Provavelmente isto levar-nos-á a mais um debate sobre o papel da Academia. Alguns não perderão a oportunidade de inserir algures, como o fez o João Seixas, o papão do cânone. Não se confundam as discussões. Se a definição do cânone é justamente definida pelo impacto sobre o «tecido cultural», decidamos então que o nosso de momento pouco mais terá que o Frankestein, o Drácula, o Senhor dos Anéis, o Harry Potter, o 1984, o 2001, o Verne e o Wells; e preparemo-nos para começar a incluir a novelização do Matrix ao invés do Neuromante, e juntar também a Meyer ao ramalhete. Mas agora a sério, engavetando a discussão do cânone, que mais uma vez nunca esteve em cima da mesa nas resenhas originais, apenas nas efabulações do comentário do João, do que servirão estudos académicos sobre literatura fantástica nacional, se não acompanharem também, em tempo real, a evolução do campo? E, nesse caso, uma saga com o fôlego, escopo e temáticas, que marcou o género nos últimos cinco anos, como a d’As Terras de Corza, merece, na minha opinião, ser considerada.
Eu sei que provavelmente esta visão será culpa da minha formação científica, esta coisa que o Newton nos incutiu de estarmos em pé sobre os ombros de gigantes, mas mesmo assim a olharmos para longe. Não deixamos de valorizar o passado, mas sentimos o presente e vivemos no futuro. Péssimo hábito!
Resta-me deixar explicita a (minha) definição de «obras merecedoras de atenção académica séria» (sendo as que revelam qualidade formal, conteúdo especulativo, se inserem em problemáticas de discussão actual, são passíveis de assomar como marcos de referência, etc.). Mesmo fugindo a alguns desses parâmetros, não me escandaliza que alguns epifenómenos sejam abordados como tal. E se esta definição global até pode ser discutida, lamento que quanto aos méritos particulares da obra da Madalena Santos fique a falar sozinho, porque afinal o João Seixas não leu qualquer um dos quatro volumes. Como se a ausência da prova fosse em si prova negativa…
O caso do Pedro Ventura é ainda mais rápido de consubstanciar. Independentemente do que possa ser a tradição de fantasia épica no fantástico nacional, são poucos os executantes desse género que presentemente trabalham os seus textos de forma interessante para um leitor mais informado e exigente. E que a visibilidade de mais um seja de assinalar. Não me parece que tenha de haver um tratado sobre a fantasia épica nacional, ou do fantástico nacional como um todo, para que essa afirmação seja feita. Até porque, como se depreenderá, essa minha afirmação toma implicitamente em conta o corpo de textos da totalidade dos autores nacionais similares.
Além disso, fazendo a resenha um apanhado das qualidades e falhas da obra, deixa-se ao leitor a ponderação final sobre o interesse suscitado pela obra; algo que a frase descontextualizada no comentário do João nunca faria vislumbrar a um leitor das suas citações. Espero que tal não tenha sido uma tentativa de empacotar as resenhas em causa com o cenário de “crítica acrítica” vigente em muitos blogs, que tanto eu como o João temos denunciado.
Quanto à referência específica ao Batalha, do David Soares, não posso deixar de expressar a minha incapacidade quanto a poderes premonitórios, já que o livro foi lançado depois da resenha em questão ter sido escrita, o que impossibilitaria a comparação, mesmo que ela fosse relevante.
E surge a última efabulação do comentário do João: a acusação de um cânone efémero e pessoal. Mais uma vez, o João confunde a árvore com a floresta. As resenhas não almejam a constituição, ou imposição, de um cânone pessoal. São um reflexo da minha reacção como leitor às obras, e uma tentativa de enriquecer essa leitura com algumas considerações que me parecem relevantes no quadro das próprias obras, e do seu enquadramento no panorama do fantástico nacional (e por vezes internacional). É nesse âmbito que continuo a achar que os livros da Madalena Santos merecem maior atenção, e que o Pedro Ventura veio reforçar uma área que tinha falta de executantes que tentem quebrar o molde que tem sido repetido à náusea.
Há sem dúvida muito a discutir, e muito em que eu e o João iríamos com toda a certeza concordar (e outro tanto que não). Mas tal discussão não pode ser baseada em falsos propósitos, ou apenas pela negativa. E certamente não poderá acontecer sem descermos, ambos, aos pormenores.
Como conclusão, interrogo-me se o comentário do João Seixas não prefigura, todo ele, uma catacrese. Um edifício argumentativo de um académico que se confunde, ou é confundido, por um crítico. Como o próprio referiu, correctamente, convém não se confundir o papel da crítica e da análise académica. Relendo o comentário do João, noto a ausência de crítica literária, e a presença de um esfiapado academismo (quiçá fruto da emotividade, dado que o autor nos habituou a ensaios de qualidade superior). À sua maneira, um comentário iludido no conteúdo e hiperbólico na forma. Pergunto-me se não será isso o pior serviço ao fantástico nacional…
19 Comments:
Se existem teses sobre literatura light na faculdade porque não de literatura de fantasia?
Ainda só li os dois primeiros volumes das Terras de Corza e ainda não tive oportunidade de adquirir o mais recente livro do Pedro Ventura, mas creio que ambas as obras podem ser lidas a nível académico se o tema for bem escolhido e se a pessoa em questão tiver uma bagagem académica bastante boa.
Creio que o problema da literatura fantástica em Portugal deve-se mesmo a estas pieguices, que não nos levam a lado nenhum. Já manifestei várias vezes a vontade que tinha em escrever um ensaio sobre figuras femininas na fantasia contemporânea - para isso teria de ler os livros que iria tratar, mais outros estrangeiros com a mesma temática, mais ainda ensaios e livros sobre o tema. Parecendo que não, lá se ia pelo menos meio ano para ficar um ensaio bem construído, com lógica e "depth".
Na minha opinião (enquanto estudante de literatura) penso que estas posições defendidas no blog do João Seixas só defendem as posições de muitos académicos, que quase negam a Fantasia como género digno. Se podemos estudar Ursula Le Guin (cheguei a analisar um conto dela para Estudos Feministas), porque não abordar também obras portuguesas contemporâneas, cujos ensaios e análises são escassos?
Cara Adeselna,
São tantos os disparates neste comentário, desde a minha defesa da academia nacional (que não defendo, nunca defendi e da qual, com algumas excepções, tenho uma péssima opinião), passando por esse conceito acéfalo de literatura light (isso deve ser defendido pelos mesmos professores que queriam incluir o BIG BROTHER nos manuais de português), até chegar à suprema imbecilidade de me acusar de quase defender que a Fantasia não é um género digno (antes ainda de confessar que frequenta vazios de intelecto como os Estudos Feministas), que me faz arrepender de desperdiçar tantas palavras para sublinhar um ponto tão simples...
No entanto deixe-me dizer-lhe que enquanto anda a pensar escrever um ensaio absolutamente banal, eu publiquei o primeiro grande ensaio sobre uma obra de Fantasia escrito em português (pela Professora Rosário Monteiro).
Mas vou partir do princípio de que foi com o laptop já fechado e debaixo do braço que passou os olhos pelo meu post (se é que passou), e esclarecê-la (às vezes é preciso traduzir aos estudantes de letras o que se quer dizer quando se escreve determinada coisa) que o que eu disse no meu post foi que para que a academia se debruce sobre determinada obra, seja ela de literatura popular ou de literatura mais erudita, deve ser necessário que ela tenha interesse, relevo e importância. No caso em concreto, sob pena de desacreditar ainda mais o género.
Porque é evidente que ambas as obras "podem ser lidas a nível académico se o tema for bem escolhido e se a pessoa em questão tiver uma bagagem académica bastante boa"...ou até menos boa; a questão é saber se merecem ser lidas a um nível académico (de preferência de uma Universidade a sério).
Imagine o que seria se alguém viesse dizer que a Adeselna era o exemplo perfeito do estudante de letras... acabavam-se as vagas em ciências.
Que quer, são lamechices
Cumprimentos,
João Seixas
Este comentário foi removido pelo autor.
Sr. Seixas,
acho esse tom perfeitamente dispensável. Um tom superior de quem se acha o melhor. Assim mostra que está fechado a novas opiniões e que defende que a sua é a melhor. Não estabeleço diálogos com esse tipo de pessoas e ainda bem que o Rogério Ribeiro não é assim.
Cara Adeselna,
Quem nunca consegue abrir-se a novas opiniões é quem se preocupa mais com o tom do que com o teor delas.
Mas ambos sabemos que o problema é bem outro, não é?
Claro que não partilhando da minha opinião, deve achar - e se calhar defender - que a sua é a melhor. Mas como não se dá com pessoas assim, deve ter uma relação conflituosa consigo própria...
Já viu se ainda se utilizasse a terapia por electro-choque?
João Seixas
...por aqui se pode aquilatar das razões para que o fantástico nacional não saia do "gueto" onde está mergulhado desde "quase" sempre.
Discute-se o acessório, recorre-se à maledicência, e termina-se no insulto.
A culpa não está no fantástico, a culpa está e estará sempre naqueles que o dizem defender.
Como se ele precisasse de defesa, deste tipo de defesa!.
Basta de fundamentalismo."Falem" menos, leiam mais, e publiquem melhor.
João Pedro Pfaff
Bravo, tem toda a razão. Agora o Roger e a Adeselna compreenderem isto...
...nem podem compreender, se tivermos em linha de conta o tipo de leituras que, quer o Roger quer a Adelsena,têm tido ultimamente, tendo em atenção as resenhas deste e do outro blog.As quais, serão sobre tudo menos sobre fantástico de qualidade.
Manda o bom senso evitar-se "criticar" as obras escritas pelos amigos.E, infelizmente, neste país( e noutros, idem) as coisas ainda funcionam assim.E o resultado só pode ser esta amargura feita de medíocridade..
João Pedro Pfaff
João Pedro,
Fico contente que também queira largar o acessório; em favor do essencial, imagino eu. Sendo assim, sinto-me curioso o que será para si o essencial. Os livros e o mercado, calculo. Partindo do princípio que assim é, como se propõe sem se falar das obras em particular? E das editoras de uma forma baseada que vá além do comentário sarcástico generalista (e, como demonstrei, incorrecto)?
Quanto à defesa, desengane-se. O post não constitui uma defesa do fantástico, mas apenas uma defesa pessoal, por considerar terem sido utilizadas citações de algumas resenhas deste blog, de onde foram retiradas conclusões que deturparam o sentido dos textos originais.
Quanto aos amigos, (in)felizmente se não pudesse "criticar" os "amigos", não poderia resenhar a grande maioria dos autores nacionais. Mas como também resenho quem não o é, e até me apontar que o faça de forma diferente, receio que tenha de juntar esse seu comentário à mesma discussão do acessório de que se queixa.
Como imagina, ao colocar aqui as resenhas, tenho consciência que fico exposto a todo o tipo de opiniões. Já as recebi por ser demasiado exigente, e já as recebi por ser demasiado brando. Não me admira, e sinceramente não me deixa preocupado...
Abraço,
Roger
João,
Fico contente que concordes com o João Pedro. Fico então À espera de te ver "falar" menos, escrever mais e publicar mais...
... e, já agora, faz o trabalho de casa de forma mais convincente. É sempre incómodo começar por concordar contigo nas generalidades e acabar com areia na engrenagem pelos argumentos serem afinal duvidosos...
Abraço,
Roger
E João Pedro, quanto à "amargura feita de medíocridade", duvido que até o João Seixas concorde consigo. E convém não ser mais papista que o papa...
Abraço,
Rogério
O meu blogue não é sobre livros de fantasia, leio de tudo um pouco. Neste momento estou a ler "The dispossessed" da Urula Le Guin e a seguir espero ler The Werewolf pack da colecção de Wordsworth e depois Atonement de Ian McEwan. Passo de FC por terror até ficção contemporânea. Se lesse só livros de qualidade, viveria num mundo muito enfadonho onde tudo era bom e só conheceria uma realidade - o cinzento. Ainda bem que vejo o mundo a cores.
Ainda bem que as Madalenas, Pedros, Fábios e algumas editoras deste país, publicam fantasia escrita em Portugal sem se preocuparem com criticas ou análises. Positivas ou negativas.
Rogério, com todo o respeito e consideração que me merece, e para que me faça entender, o essencial para mim não é catalogar ou enquadrar aquilo que leio ( e só porque fui eu que o li! e porque gostei) como obra digna de ser estudada a um nivel académico( nem percebo qual necessidade de tal), ou como marco significativo de um género.Éxiste uma tendência generalizada nos blogs de cariz literário ou que pretendem sê-lo, de tomar a sua critica como uma quase lei de qualquer coisa, quando a maior parte das vezes se trata de opiniões de leitura, e que como criticas literárias deixam tudo a desejar.
O essencial, meu caro Rogério, é precisamente aquilo que os autores de blogs não fazem habitualmente, talvez porque estão perdidos em exercicios narcisistas de estilo, e que é uma verdadeira critica literária.Limitam-se a ser "fazedores" de opinião ( ou a tentar sê-lo), sem que a maior das vezes fundamentem o que quer que seja e sem terem o distanciamento necessário à objectividade.
Não quero com isso afirmar que seja o seu caso.
Abraço
Cara Adelsena, ainda bem que não vive num mundo cinzento, e isso porque lê livros de todos os géneros.Eu como sou daltónico,e não consigo distinguir o verde do vermelho, vivendo como tal numa franja do mundo só perceptivel para alguns, vou tentar corrijir essa minha "disfunção" lendo todos os livros que a Adelsena não lê, e evitando todos aqueles que lê, perdoe-se a circularidade!!..
Pode ser que com insistência e "querer" ainda venha a atingir esse tal mundo "enfadonho" e cinza que a Adelsena desconhece,esperando, no entanto, que não seja um mundo pejado de Highlanders, mas exclusivamente de belas Amazonas, que podem chamar-se Adelsena ou não!!...
.
Beijinho.
João Pedro Pfaff
"Pode ser que com insistência e "querer" ainda venha a atingir esse tal mundo "enfadonho" e cinza que a Adelsena desconhece,esperando, no entanto, que não seja um mundo pejado de Highlanders"
Sr. João essa tendência de não ler as coisas está-se a tornar um hábito. Se lesse as minhas críticas via que posso ler muitos livros, mas não digo bem de todos. Você deve ter-se limitado a ver a primeira página do blog e viu os livros da Karen Moning e pensou 'esta gaja só lê porcaria.' e escreveu isto.
Aliás se lêssemos todos os livros só para dizer bem, que necessidade haveria de escrever críticas/ opiniões? Leia os livros que lhe apetecer, não tenho nada a ver com isso. Por isso é que tenho o meu blogue, são livres de não meter lá os pés.
Mas acho que nos estamos a dispersar do artigo e estamos e entrar num campo mais pessoal. A discussão aqui não é o que eu leio/ escrevo. Agradeço antes de mais a paciência do Rogério nesta discussão sem sentido.
Parece que o Fantástico Português não vive sem sangue! É engraçado que nem o Pedro Ventura, nem a Madalena Santos se metem nestas discussões e especialmente a Madalena já tem uma colecção toda cá fora. Penso tal como o pco69 que é de louvar estes escritores passarem à frente destas coisas, não perderem tempo a discutir inutilidades e produzam para não termos prateleiras só com traduções.
Cara Adelsena, tem toda a razão.Não vamos dispersar-nos na discussão.
E concordo consigo quando se refere ao facto de o Fantástico português não viver sem sangue.Mas deve estar a referir-se ao Fantástico dos criticos e bloggers, porque o outro, o da "criatividade" e de uma ficção fantástica de cariz luso, esse há muito que deixou de existir.
O que existe,isso sim são umas pálidas e tristes imitações do fantástico anglo-saxónico.E isto é o que as pessoas teimam em não ver.Eu adoraria, como leitor, ver as estantes das livrarias pejadas de bons autores portugueses e bons livros de fantástico português.
Nada tenho contra a publicação de todos os autores que cita e mais que surjam.
No entanto permita-me o exercicio de liberdade de afirmar, vindo deste meu mundo cinzento daltónico, que a qualidade deles é muito baixa.
João Pedro,
Por alguma razão tive o cuidado de indicar a minha formação (académica) no comentário. Por alguma razão chamo geralmente ao que escrevo "resenhas" e não "críticas literárias", até porque raramente me sinto com competência para tanto. E se concordo consigo que uma crítica literária pressupõe maiores considerações, às resenhas, que significam tão somente enumerar minuciosamente as razões da opinião positiva ou negativa, nunca quis que se desse um valor maior daquele inerente a representarem a opinião deste leitor específico.
E, acredite, quando as transmito, não é para ser fazedor de nenhuma opinião. Aliás, quando muito, se as minhas opiniões não corresponderem às de subsequentes leitores, imagino que depressa perderão a vontade de ler o blog. É, no fundo, o que faço com outras opiniões que leio...
Portanto, apesar do João Pedro não o afirmar, afirmo-o eu: Não pretendo impor aqui leis ou rótulos, muito menos académicos, mas tão somente dar a minha opinião (que, mesmo no quadro da minha ignorância, possa ser de uma possível relevância académica da obra ;)), baseada naquilo que conheço ou que penso sobre o género. O único compromisso que faço questão de assumir, é o de não emitir opiniões, positivas ou negativas, que não sejam suportadas por argumentos declarados.
E se alguma vez evoquei a crítica literária em vão, peço que me desculpe! :)
Abraço,
Rogério
Cariz luso?! Essa questão tem sido recorrente nos debates dos eventos a que tenho estado associado, e creio que terá sido o Luís Filipe Silva que emitiu uma opinião que me faz todo o sentido: Como ter um cariz luso numa sociedade globalizada cada vez mais uniforme?
Quanto à questão da qualidade, as generalizações são sempre perigosas. Considero que temos alguns autores nacionais muito bons e outros muito maus. E depois temos vários espalhados ao longo de todo o espectro intermédio. Tal e qual o mundo anglo-saxónico; ou onde pensa que nasceu a Lei de Sturgeon (90% de qualquer coisa é lixo)?
Caro Rogério.
Apenas um esclarecimento final: quando refiro um fantástico de cariz luso, quero com isso dizer, um fantástico escrito por autores portugueses e em lingua portuguesa.O seu imaginário poderá ter todas as referências que queira, MAS, e este Mas é que é importante e pode fazer a diferença:que não se limite a ser mais do mesmo, com os clichés do costume, já gastos e estafados pelos autores anglo-saxónicos, que sejam bem escritos, bem revistos,bem editados, permitindo criar autores e obras meritórias.
Se para isso é "necessário" que se edite muita porcaria à mistura, assim seja.Sejamos pacientes e penitentes.
E concordo inteiramente consigo, que na literatura de pendor fantástico, como em qualquer outra, 90% é lixo.
Assim outro problema se coloca : a literatura fantástica portuguesa, infelizmente, ainda é 99,9% lixo. Ficarei feliz quando "ganharmos" os 9,9% que nos faltam para andarmos na média que segundo Sturgeon, representa o não-lixo.
Abraço
João Pedro Pfaff
Enviar um comentário
<< Home