domingo, julho 16, 2006

A cruel realidade...

Prova de que tenho andado alheio a tudo o que é serviço noticioso é que só me dei conta do que se estava a passar no Líbano quando, ontem de madrugada, vi na TV5 Monde Tripoli a ser bombardeada. Pensei que fosse um ataque terrorista. Qual ataque terrorista, qual quê, é o mundo inteiro a enlouquecer de novo!

A teia de interesses que jogam as suas cartadas em solo libanês sempre me pareceram claras, ou passariam a sê-lo depois de ler os dois últimos posts no blog da Safaa Dib, minha parceria de Fórum Fantástico, aqui e aqui. Que a comunidade internacional se tenha rendido a uma (in)cómoda posição de uma no cravo outra na ferradura já se tornou evidente há alguns anos, pelo menos tantos quantos nos separam da última leva de grandes estadistas europeus.
Serei só eu a ter a impressão que nos aproximamos perigosamente do cenário que antecedeu a 2ª Guerra Mundial? É que vejo por aí muitos Chamberlains e Ligas das Nações, pessoas que com a desculpa de estarem a lutar contra o establishment por dentro não admitem que se limitam a gerir as migalhas de quem não quer o barco demasiado agitado.

Numa sociedade de informação, somos cada vez mais influenciáveis. Nunca como agora se implementam mecanismos censórios e filtradores com um suposto ponto de apoio totalmente democrático. Ou qualquer coisa como a versão online do jornal Público, onde não se exerce censura, apenas se apagam os comentários mal escritos!
Somos o que vemos, e o que as televisões nos dão a ver é mau. Reducionista, fragmentário, pouco auto-crítico, pouco competente (sobre o Médio-Oriente, as crónicas do Henrique Cymmerman são uma estrela cadente. Mas nisto, uma árvore não faz a floresta).

E nem vale a pena andarmos a demonizar o George Bush. Quem olhar para a história dos Estados Unidos da América vê, desde a sua génese, um condão para arranjar desculpas cada vez que se podia meter numa guerra proveitosa. Nós até escapámos (embora por pouco, no séc. XX), mas já os nossos vizinhos espanhóis não se podem vangloriar do mesmo (no séc. XIX)!
Os norte-americanos (os meus amigos canadianos não me perdoariam se não os colocasse fora deste saco) defendem os seus interesses, acho muito bem. A nós, portugueses, faz-nos falta essa filosofia. Agora que os restantes, incluindo nós, nos comportemos seguindo os interesses americanos, isso é que me escandaliza e deixa estupefacto.

Há quem costume dizer que o modelo que a sociedade ocidental adoptou, e está a impor ao mundo, só terá como válvula de escape, assim como a maioria das fases civilizacionais, uma revolução. Discordo. Nunca como agora temos consciência de um bem-estar que não nos atrevemos a por em causa. Nunca como agora nos escandalizamos com as atrocidades que vemos nas notícias, mas apaziguamos a nossa alma ferida com um toque do comando remoto ou com um chequezinho de apoio a uma ONG, ou um saquinho de supermercado.
Não queremos saber de política, já nem quando nos mete a unha na carteira!

A política internacional é hoje uma navegação à vista... de certos interesses. Não é de admirar quando somos governados por self-made men, depois não nos podemos queixar de colocarem o próprio bolso acima de tudo. Compreendamos, o Povo também não ajuda, sempre pronto a abdicar do sentido crítico e das regras da boa governação, em troca de escândalos sumarentos e ascensões e quedas meteóricas. A lógica dos circos romanos funciona ainda hoje, e cada vez melhor.

E nós, os autodenominados cidadões normais, escondemo-nos atrás das nossas certezas, que na Europa significam que, depois da 2ª Guerra Mundial, nunca mais nos vamos meter noutra.
Mera ilusão, como constatei em conversa com o escritor sérvio Zoran Zivkovic, convidado no Fórum Fantástico 2005, e que me contava como a poderosa máquina mediática de Milosevic conseguiu, ao fim de algum tempo, plantar a semente até nas mentes da população mais tolerante. Não há vez que veja os ridículos comícios de Hitler que não me assuste com o que ele induziu nos espectadores, pois tenho a certeza que não passariam de pessoas normais. Afinal, não me parece que estejamos livres de nos acontecer a nós!

É que, apesar de todo o livre arbítrio que pensamos exercer, somos criaturas crescentemente influenciáveis, como já nos tinha avisado George Orwell, e previsíveis, como imaginava Isaac Asimov.

E porque este artigo só poderia terminar com um toque utópico, apetece gritar: Moderados de todo o Mundo, Uni-vos!

1 Comments:

At 7/17/2006 5:41 da tarde, Blogger Artur Coelho said...

Estamos realmente a viver tempos perigosamente semelhantes a 1939. E ninguém descreve as acções israelitas como aquilo que elas são - agressões a um país soberano, e tentativa de genocídio de uma nação sem território.

 

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