Enciclopédia da Estória Universal - Resenha
Há livros que escapam à nossa atenção. Este Enciclopédia da Estória Universal, do Afonso Cruz, teria sido provavelmente um deles, não se tivesse dado o caso do Luís Rodrigues o ter apontado, para a versão online da Locus, como o único livro do fantástico nacional de nota em 2009.
Polémica que essa decisão tenha sido, e não concordando estritamente com ela (como pode ser depreendido de outros livros saídos em 2009 que tenho aqui resenhado), teve o condão de alertar alguns de nós para a existência do livro. Para mais que, quando o fui adquirir, percebi parte das razões da sua relativa obscuridade: devido ao seu nome, foi incluído nas secções de livros de História, ao invés das de Literatura Portuguesa. E se acham o caso com piada, pensem na diferente visibilidade dessas secções, e na cena ridícula de ter uma funcionária da livraria, perante o meu espanto na escolha da colocação, a admoestar-me enfaticamente de que não se tratava de um livro de Literatura!
Para além de escritor, Afonso Cruz é ilustrador, músico, realizador de filmes de animação, e, segundo o próprio, viajante. Aliás, a fabulosa ilustração da capa é da sua autoria, num volume que se destaca pelo aprumo visual.
Respeitando uma estrutura enciclopédica, o leitor vai assistindo neste Enciclopédia da Estória Universal a um desfilar de pequenas histórias (estórias) que se vão progressivamente cruzando e emaranhando, numa sucessão de obras referenciadoras e referenciadas. A lista de autores cujas citações se vão cruzando vai também aumentando, entre nomes puramente inventados e figuras tutelares deste tipo de fantástico, mesmo que reais ganhando aqui uma aura de divindades de facto, como por exemplo Jorge Luís Borges.
Polémica que essa decisão tenha sido, e não concordando estritamente com ela (como pode ser depreendido de outros livros saídos em 2009 que tenho aqui resenhado), teve o condão de alertar alguns de nós para a existência do livro. Para mais que, quando o fui adquirir, percebi parte das razões da sua relativa obscuridade: devido ao seu nome, foi incluído nas secções de livros de História, ao invés das de Literatura Portuguesa. E se acham o caso com piada, pensem na diferente visibilidade dessas secções, e na cena ridícula de ter uma funcionária da livraria, perante o meu espanto na escolha da colocação, a admoestar-me enfaticamente de que não se tratava de um livro de Literatura!
Para além de escritor, Afonso Cruz é ilustrador, músico, realizador de filmes de animação, e, segundo o próprio, viajante. Aliás, a fabulosa ilustração da capa é da sua autoria, num volume que se destaca pelo aprumo visual.
Respeitando uma estrutura enciclopédica, o leitor vai assistindo neste Enciclopédia da Estória Universal a um desfilar de pequenas histórias (estórias) que se vão progressivamente cruzando e emaranhando, numa sucessão de obras referenciadoras e referenciadas. A lista de autores cujas citações se vão cruzando vai também aumentando, entre nomes puramente inventados e figuras tutelares deste tipo de fantástico, mesmo que reais ganhando aqui uma aura de divindades de facto, como por exemplo Jorge Luís Borges.
A burla e a ficção são assumidas, mas em poucas páginas já estamos tão envolvidos nelas que se nos parecem tão válidas como a (pretensa?) Realidade. Respira-se, afinal, nesta obra, um sopro verdadeiramente universal, da filosofia ocidental à reflexão oriental.
E, no final, ao se fechar o livro, pequeno do tamanho da mão aberta, sopesamos algo bem mais considerável que o que a nossa vista regista: o peso de uma sabedoria universal, de um micro-cosmos encerrado nesta maravilha apócrifa que a Quetzal terá sem dúvida conseguido surripiar ao Índice de Livros Proibidos. A não perder.
15 Comments:
Um excelente livro de um autor da minha terra e que aprecio muito.
Esteve na quarta feira em Sousel iniciando um ciclo de palestras sobre literatura fantástica que foi ontem fechado por mim e pelo João Barreiros. E maravilha das maravilhas cerca de duas dezenas de alunos e outros interessados fizeram um plateia de excelência...afinal o fantástico apenas precisa de um empurrão pois existem muitos leitores!
Um abraço
:) já agora, procura Os Livros que Devoraram o meu Pai . é menos infantil do que nos fazem crer no site da editora.
"E maravilha das maravilhas cerca de duas dezenas de alunos e outros interessados fizeram um plateia de excelência...afinal o fantástico apenas precisa de um empurrão pois existem muitos leitores!"
Desculpem a minha ignorância, mas duas dezenas são vinte, não é? De repente, parece que são "muitos leitores".
Acho que é altura de os cantadores de amanhãs começarem a abrir os olhos, ou a olhar para outras coisas que não os respectivos umbigos.
Roberto:
Isso merecia ter sido publicitado! Então, nem parece teu! ;)
Cristina:
Sim, fiquei com imensa curiosidade quanto aos restantes livros do Afonso Cruz. Já leste mais algum dos outros?
Abraço,
Rogério
Caro Anónimo,
Não querendo responder pelo Roberto, assalta-me um comentário: tem conhecimento do conceito de amostragem? ;)
Abraço,
Rogério
Epah caro Anónimo tenho de fazer uma errata. Não foram duas dezenas, foram duas centenas:)No correio do fantástico vou mostrar algumas fotografias...um anfiteatro cheio, com pessoas em pé e sentadas nas escadas. Alunos do sétimo, oitavo e nono ano formaram talvez 70% dos presentes.
Rogério,
Era para te escrito um post, mas acabei por decidir escrever depois de se ter realizado.
Um abraço
"Um excelente livro de um autor da minha terra e que aprecio muito."
E onde esteve o Roberto Mendes até hoje para nunca ter falado de Afonso Cruz nem nas suas revistas nem nos seus blogues?
Excelente livro, Rogério, já tive oportunidade de o ler e também gostei bastante.
Fico contente por poder revelar que o Afonso Cruz aceitou o convite para participar no próximo número da revista Bang! Quanto ao teor da sua participação, isso é surpresa. :)
"Epah caro Anónimo tenho de fazer uma errata. Não foram duas dezenas, foram duas centenas:)"
Pois sim, já vi as fotografias. Têm todos o aspecto claro de quem está voluntariamente. Dessas duas centenas, quantos eram alunos de turmas que não eram obrigadas a estar lá?
Obrigado, Rogério!
Roberto: Somos conterrâneos?
Realmente, os meus olhos até passaram por esta obra e pela do Octávio dos Santos, mas não as reconheci - nenhuma delas - como sendo de ficção, ocorreu-me somente que alguém tinha cometido um grave erro na "estória" da capa.
Realmente, tivesse eu fundo de maneio para isso e, com base nos grandes posts que têm populado a blogosfera fantástica (Seixas, Valente, Robeiro e LFS), metia-os a todos como cronistas numa publicação mensal, ó se metia.
Afonso,
Por acaso até cometi um erro, sou natural da terra onde vives, mas não de onde nasceste.
Caro Anónimo,
Fizesse o senhor o que eu tenho feito pelo fantástico português, sem ganhar nada com isso e certamente que até usaria um nome nos seus comentários.
Existem muitos autores sobre os quais nunca falei, por variadas razões, mas olhe que já tenho falado de muitos.
Pois bem, deixo apenas uma indicação: Apenas o sétimo ano estava obrigado a ir, os alunos do oitavo e nono estiveram uma hora e meia no anfiteatro de livre vontade. Uns (diria sete ou oito) saíram poucos minutos depois de começar, os outros ficaram...
Tente também fazer uma iniciativa destas, depois diga se por acaso correu bem. Espero que sim!
Estou já farto daqueles que não têm coragem para usar o nome para dizer o que pensam e ainda mais farto da crítica fácil. Arranje uma vida!
Rogerio, li Os Livros que Devoraram o meu Pai. Bastante diferente de Enciclopédia. Tenho já cá tenho A Carne de Deus.
"Fizesse o senhor o que eu tenho feito pelo fantástico português"
E isso foi o quê?
"E isso foi o quê?"
Caro Anónimo, tendo acompanhado muitas das evoluções e ebulições da comunidade portuguesa do fantástico nos últimos anos, até eu sei responder a essa pergunta.
Não necessariamente em termos positivos, mas sei responder.
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