Donzela Sagrada - Resenha
Ao terminar o romance “Donzela Sagrada – O Segredo de Thunderland”, estreia de
Diana Tavares, publicado em edição de autor pela EuEdito, não consigo deixar de retirar a conclusão que o que acabei de ler não é um livro, mas apenas um manuscrito a precisar de muito trabalho. Um manuscrito que as novas tecnologias permitiram que tomasse o disfarce de um livro, e que as novas estratégias de vendas permitiram que estivesse disponível ao público numa livraria. Toda esta série de equívocos tem como vítima final o leitor-pagador, que acreditando no filtro que durante décadas editoras e livrarias proporcionaram, não estava propriamente habituado a que lhe chegassem, com esta facilidade e desfaçatez, manuscritos tão gritantemente travestidos de livros.
Vítima deste processo será também a própria escritora, se tal designação pudermos utilizar neste caso. Pois se todos os agentes envolvidos nesta cadeia, desde a criação à comercialização, nunca a demoveram de publicar este manuscrito, tal qual este se apresenta, um bom serviço não lhe terão prestado. É que a história que
Diana Tavares teria aqui para contar é submergida por uma revisão atroz, uma imaturidade na concepção dos cenários e dos personagens, e uma enfadonha estrutura narrativa.
“Donzela Sagrada – O Segredo de Thunderland" acompanha as aventuras das adolescentes Hana Warren e Prue Geller, herdeiras de um poder lendário, por entre mundos paralelos. Aqui a magia tem um papel central, misturando alguma mitologia da Grécia Antiga com imaginários mais recentes.
Começando pela revisão, ou a falta dela, o texto está literalmente repleto de erros ortográficos e gralhas. Outros casos são também reveladores da falta de atenção na verificação do texto, como por exemplo uma batalha onde simplesmente falta o meio da acção. Quanto aos personagens, apresentam-se demasiado colados a arquétipos, sendo a escolha de nome de alguns, como “Zé Thor”, uma causa adicional para a sua falha de caracterização.
Se as primeiras páginas levam a crer na qualidade da obra, rapidamente a estrutura repetitiva e episódica desfaz essa esperança. Efectivamente, tanto a estrutura narrativa como as referências parecem mais próximas de uma série de animação japonesa do que das que se esperam numa obra literária. Assim como o nível da obra se encontra mais perto de uma
fanfic do que de um livro em condições de ser publicado.
Terminar de ler esta obra aproxima-se perigosamente de um suplício. A partir de meio, a acção é cada vez mais decalcada de capítulos anteriores, e mais errática, como se a própria autora estivesse a ficar cansada e sem soluções; causando no leitor um sentimento de repetição e frustração.
É triste verificar que o mercado livreiro já está tão pervertido que uma obra nestas condições pode chegar à cadeia mais importante do nosso mercado livreiro, e inclusivamente ser por ela promovida. E pior, assim mais uma “nova promessa do fantástico português”, para além de ter ainda de mostrar o que poderá valer, terá primeiro de desfazer a má impressão deixada com a sua estreia.
Trëma - nova publicação no fantástico português
A vida faz-se de desafios!
(e caso não se perceba, as submissões estão abertas...)
Não será, felizmente, novidade absoluta o lançamento de uma revista de cariz literário particularmente relacionada com o género da ficção especulativa.
No entanto, no caso presente, pretendemos que a nova revista Trëma seja a ponta do icebergue de um projecto mais vasto, com características pouco ortodoxas, e com o qual pretendemos colmatar um vazio que sentimos existir no campo da ficção especulativa em Portugal.
Um novo nome
Optámos pelo nome Trëma por duas razões principais:
1) a intimidação (benéfica) de um processo de avaliação crítico; 2) pela sua existência na grafia brasileira da língua portuguesa, sendo um elemento "alien" em algo que nós tão bem conhecemos; é o alien dentro de nós próprios.
De um novo projecto
Pretendemos dar forma a um projecto que assuma um papel de especial atenção aos criadores e às suas obras, que estabeleça padrões claros em termos de qualidade e de referências, e que faça por participar de forma activa, – informativa e formativa –, para a aplicação desses padrões. Que contribua para a divulgação e debate do que actualmente influencia o mercado editorial, nomeadamente o que afecta as diversas correntes que se aglutinam nesse caótico albergue espanhol comummente apelidado de “género fantástico”.
Outro dos objectivos do Trëma é posicionar-se sem complexos no cerne do que é hoje este género; no qual a uma veia underground longeva, militante e resistente, veio juntar-se a actual moda que, primeiro pela fantasia épica e depois pela fantasia urbana, tem causado um influxo adicional de novos leitores, de novos executantes, e de novas publicações. Uma Torre de Babel para a qual interessa criar um (fidedigno) guia de viagem, tentando igualmente contribuir para o seu melhor desenvolvimento e para uma produtiva troca de experiências.
O projecto terá vários componentes, quer apoiados em novas tecnologias quer de carácter presencial; sendo iniciado com o lançamento da Trëma, em formato electrónico e em papel, e com o embrião da sua presença na Internet. Pretende-se ainda que abranja oficinas literárias presenciais, a começar por lançar em breve em Lisboa.
Com uma nova publicação
A revista funcionará de certa forma também como uma oficina literária. Efectivamente, o processo de submissão, e eventual publicação, de textos irá respeitar vários processos diferentes do usual. Assim, cada texto recebido será avaliado por um editor e por dois avaliadores, convidados pela revista entre os profissionais da área; mantendo estes últimos o anonimato durante todo o processo. O autor terá acesso aos comentários dos três, por escrito; excepto se o editor, o único elemento que se identifica pessoalmente, decida previamente que o texto não possui qualidade mínima para ser submetido aos avaliadores, enviando apenas o seu comentário por escrito ao autor.
De uma forma sucinta, o texto poderá ser recusado, com um resumo global das causas dessa recusa, ou poderão ser apontadas mudanças, estruturais ou de pormenor, que possam fazer aproximá-lo dos padrões exigidos pela revista. Obviamente, o texto poderá também ser imediatamente aceite!
Para além de ficção, a revista irá também publicar resenhas, artigos, entrevistas, notícias e rubricas de opinião. E, para além da literatura, pretende adicionalmente abordar outras formas de criação que estejam ligadas ao género fantástico.
Como podem depreender pela ambição descrita acima, este será um caminho trabalhoso. Assim, planeamos lançar o primeiro número no segundo semestre de 2011. Até lá, contamos com a vossa participação, e opiniões, que podem ser endereçadas a trema.mag@gmail.com ou transmitidas no blogue trema-mag.blogspot.com, para que o projecto arranque da melhor forma.
Rogério Ribeiro e Sofia Vilarigues
(logotipo de Ana Baptista)
Conversas Imaginárias 2011 @Porto
(cartaz de Rui Ramos)
E também no
facebook. Programa completo em breve...