segunda-feira, janeiro 31, 2011

A Coroa dos Deuses - Resenha

A conhecida 3ª Lei de Arthur C. Clarke, proposta pelo próprio em 1973, declara que “qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível de magia”. É precisamente essa formulação que nos surge como espinha dorsal na base da saga Alex 9; ainda mais neste segundo volume, A Coroa dos Deuses (Ed. Saída de Emergência, 2010).


Felizmente, Bruno Martins Soares (Martin S. Braun) não se limita à aplicação linear do conceito de Arthur C. Clarke, e usa-o como um pau-de-dois-bicos. Por um lado na atitude temerosa dos habitantes da medieval Terra 2 perante os objectos vindos do nosso próximo séc. XXII, mas também na perplexidade de Alex 9 perante a potencial validade de cultos e profecias. E as dúvidas da personagem tornam-se as dúvidas do leitor, transformando-se num verdadeiro gancho.

Após as batalhas e golpes de sorte que estrelaram no primeiro volume, A Guardiã da Espada, as forças invasoras e conspiradoras aprenderam as suas lições, e agora pretendem fechar o cerco e fazer descer uma tempestade centrada sobre Alex 9 e o Reino de Brodom e seus aliados mais próximos. Em paralelo, em 2145, Kaoru e Pierre ganham neste volume maior protagonismo, expandido o mistério na base desta aventura e prometendo uma nova dimensão. Em tudo isto, Bruno Martins Soares volta a demonstrar uma exímia gestão da tensão narrativa.

Como seria de esperar deste segundo terço da saga, são inseridas mais perguntas do que respostas, as dificuldades crescem, o palco é montado para o clímax esperado na última parte. A escrita, clara e concisa, potencia o tom dinâmico da narrativa. Da mesma forma, algumas pequenas piscadelas-de-olho remetem-nos para o zeitgeist; como quando nos surge um agente secreto chamado Anderson Smith (Mr. Anderson e Agent Smith, anyone?), enriquecendo o texto.
Apesar de pertencer à colecção Teen, de ser apresentado como tal e de ter de se adaptar a um público jovem adulto, o que imporá as suas limitações, possui manifestamente uma maturidade que o torna também atraente a um público mais adulto.

A leitura deste segundo volume, já não perturbada por excessivos malabarismos frásicos surgidos no primeiro, é incrivelmente viciante. Alimentado pela constante alternância de pontos-de-vista e de cenários espaciais e temporais, é um autêntico page-turner. A não perder.