A Questão das Designações
Escreve aqui o Luís Filipe Silva, numa das caixas de comentários, apontando a pouca visibilidade dos mesmos, o que me faz publicar esta questão neste post:«A questão dos sub-géneros é pertinente e retirarei o livro do Octávio da equação. A minha pergunta, abreviada, é a seguinte: grande parte das classificações que ocorrem na FC surgem in media res. Ainda a coisa está a acontecer e já está a ser etiquetada, empacotada e vendida à parte. Aconteceu assim para o ciberpunk (Bethke?), para o Slipstream (Sterling?), para o Steampunk (Blaylock). Ou seja, ainda os autores não perceberam bem o que querem fazer com o objecto literário e já um tipo qualquer lhes diz o que fica dentro e o que fica de fora (João, eu sei que podemos discutir sobre isto ad eterno :))
Para todos os efeitos, o steampunk tem uma vertente bastante forte de análise dos efeitos da tecnologia no tecido social de uma época. Mas ainda assim não é distinto de história alternativa, é só um tom específico que alguém decidiu, por ser característico, destacar e chamar por outro nome. E isso não está mal. Mas depois surge a descoberta da pólvora na Idade Média, e temos de encontrar outro nome. Pergunto-me se haverá realmente necessidade disto ou se não estaremos a andar a respeitar demasiado designações apressadas dos outros quando temos igual legitimidade de inventar e reinventar as nossas.»
Vou colocar aqui também o meu comentário, esperando que a visibilidade acrescida favoreça o debate sobre este assunto.
2 Comments:
Luís,
Acho que o ponto fulcral é que somos livres de criar novas designações, certamente, mas que não devemos, sob risco de deixarmos de nos entender, reinventar o que as designações existentes significam.
E criar rótulos com inteligência até pode ser mais eficaz que reinventar os existentes.
Ainda há pouco tempo ouvi alguém propor-se a escrever um livro electropunk. Acho que todos perceberam o que isso seria... muito melhor do que se lhe tivesse chamado steampunk! (e, depois das críticas de má rotulação, o autor se viesse defender que era steampunk... mas com electricidade ao invés de vapor) :P
Um abraço,
Rogério
Luís e Rogério,
O Rogério praticamente já respondeu à questão, in essentia. Acrescentaria apenas que a categorização em sub-géneros para além de útil, não cai propriamente do ar.
Falas do Cyberpunk do Bethke, e é o melhor exemplo disso: primeiro porque quando o termo começou a ser empregue, um ou dois anos depois, foi buscar o nome ao Bethke, mas porque já existiam outras obras, com elementos suficientemente reconhecíveis para: a) serem identificadas como pertencendo a um mesmo corpus literários de interesses, técnicas, tons e abordagens; e b) serem identificados como suficientemente distintos do que havia antes (pelo menos, em termos do atitude).
E isso mesmo que as designações não sejam as mais correctas. Lembras-te certamente (Luís) de quando estivemos em Nantes, de ouvir directamente from the horse'e mouth (Sterling, Jeter e Phillipo) de como o termo steampunk tinha surgido, como algo derrogatório, mas que afinal, como se vê, sempre foi útil como designação (apesar de o steampunk não ter nada de punk).
Agora, realmente, querer tornar as categorias tão elásticas que tudo cabe nelas, levaria a extremos desnecessários. A introdução da pólvora em tempos pré-históricos cabe perfeitamente no rótulo "história alternativa", não precisa de ir enfiar-se no "steampunk".
Caso contrário, toda a FC seria steampunk, pois directa ou indirectamente, trata da aplicação de tecnologia avançada (futura ou inexistente) ao passado (ainda que esse seja o nosso presente).
Abraços,
Seixas
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