Mas antes...
... de me retirar temporariamente, fica um presente: Em Setembro,
volta a Tertúlia Noite Fantástica!
Quem é amiguinho, quem é?
Hibernação
A conversa está muito interessante, mas o Dragão vai ali fazer uma soneca de uma semana e já volta...
Novos desafios
Geralmente, depois da tempestade vem a bonança; e com a bonança vem o silêncio. Por momentos temi que fosse isso que voltasse a acontecer com o recente debate que assolou o fandom nacional de literatura fantástica. Felizmente, as primeiras evidências parecem desprovar essa impressão...
Enquanto se esperam mais desenvolvimentos prometidos no
Correio do Fantástico, o
Francisco Norega aceitou o desafio de
colocar no seu blog,
Anagrama Anárquico, alguns excertos de novos escritores portugueses, ainda não publicados comercialmente.
Estaremos perante a nova geração de escritores de literatura fantástica em Portugal? Não há como ler os textos, e opinar sobre os mesmos. O debate prossegue dentro de momentos...
Lua... de Sangue
Para se ser leitor, basta ler. Para se ser fã, há que ir para além dessa leitura, ter algum interesse pelos autores, pela contextualização histórica das obras, ter alguma noção geral sobre a área em que se encaixa. Há também outra definição de fã, por vezes colada ao parentesco com a palavra "fanático", um gosto cego por determinado autor ou género, mas deixo de lado a análise dessa versão.
Por coincidência, ou talvez não, tem sido no campo da literatura fantástica que, a nível mundial, mais se tem notado esse sentido de fã, mais ainda de comunidade de fãs, por muitos apelidada de "fandom". Surpreendentemente, ou talvez não, essa agregação "quase-familiar", traz ao de cima tanto as vantagens de apoio e inserção das boas famílias, como de mesquinhez e tragicomédia das más.
Pelos exemplos que tenho visto, nomeadamente em Portugal e no Brasil, mas aposto que será assim nos outros sítios, a dada altura dá-se a "entrada" de uma nova geração no fandom, uma vaga de suposto salutar sangue fresco, que no entanto é muitas vezes recebida com cepticismo, e mesmo algum cinismo, pelas gerações mais antigas, por ventura vítimas do desencanto de tudo o que lhes correu mal desde a altura em que representaram elas o papel de "vaga renovadora". Esta "parede" de "Velhos do Restelo" pode ser tremendamente frustante e incompreensível para quem vem com vontade de construir, ajudar, evoluir. E o choque pode ter um de dois resultados, determinado em grande parte, julgo eu, pelo carácter das pessoas envolvidas: ou se trata de pessoas de boa índole, e, depois de muito martelar, começa a surgir do debate um ponto de partida aceitável para todos, ou nem todas as pessoas partilham desse carácter, e impera a acidez e baixeza dos argumentos, ou falta deles.
Obviamente, mesmo atingida a primeira, isso por si só não é garantia de sucesso. A uma base consensual tem de se seguir uma boa dose de trabalho para que o "impossível" se possa concretizar!
Vem todo este discurso a propósito do debate que ultimamente tem agitado algum do fandom português do Fantástico. Debate iniciado com alguma polémica, em resposta a uma crónica de Luís Rodrigues no site
SF Signal, depressa se fez sentir esse
generation gap no blog
Correio do Fantástico. Os dois tópicos de discussão que se seguiram,
aqui e
aqui, mostraram o melhor e o pior do que o fandom parece ter para oferecer. No meio de tudo isto, prefiro pensar que ficou demonstrado que há um ponto de partida possível para se fazer mais pelo futuro de uma literatura fantástica de qualidade.
Incluindo-me no que se poderia chamar a faixa da "média-guarda" do fandom nacional, os que estão "ensanduichados" entre a velha-guarda e a nova vaga, sinto que ainda posso contribuir para essa evolução, apesar da experiência acumulada me aconselhar uma economia dos parcos meios. Há que não esquecer que boas intenções não são tudo, e, aliás, muitas vezes não passam disso mesmo. Além disso, para fazer avançar seja o que for, o investimento de capital emocional tem de ser sempre muito grande. É que as pessoas que se prestam efectivamente a ajudar são escassas, mas as que surgem para críticar abundam.
Aliás, não deixo de me surpreender com o desplante de algumas luminárias do meio. Luminárias que queimaram, dentro do fandom, quase todas as pontes que tinham para queimar, mas que, perante os "novos recrutas" não evitam adoptar um ar da mais alva beatitude e, quando velhas dívidas de sangue resurgem, da mais despudurada vitimização. Chega a ser constrangedor ver como tentam juntar os netinhos à volta da fogueira para lhes contarem como tudo começou... contando a história a partir de meio, onde lhes convém. Vem isto agregado a patentes disfunções de comportamento, agravadas pelo efeito que se sabe terem as novas tecnologias neste departamento. O que eram antes gotinhas de ácido destilado numa mesa de café, em conspiratória confidência, são agora rapidinhas em twitters e quejandos. Haverá melhor facadinha nas costas que aquela dada à vista de toda a gente?! Afinal de contas, só se insulta quando se dirige o insulto à cara/twitter/blog/post/facebook do alvo, não? Será?!
E como se lida com isto? O processo natural começa por enfrentar, argumentar, ficar chamuscado quando se começa a apanhar por tabela, por nos "metermos onde não somos chamados". Depois vem uma tentativa de encontrar um ponto de civilidade funcional que impeça novos confrontos, e aí acaba por se notar que se acordou algo que se vai recusar para todo o sempre a adormecer; uma vez entrados na "lista-negra", dita a paranóia que nunca mais de lá saiamos. Por fim, a fase em que me encontro, é abdicar de intervir, é deixar andar, é assobiar para o ar mesmo quando, para proveito de quem acabou de chegar, nos tratam como se fossemos amigos dilectos de longa data, uns compinchas. Mesmo quando nos respondem a perguntas que não lhes são dirigidas, mesmo quando fazem por ignorar a nossa patente indisponibilidade para entrar em diálogo directo. Resta-nos isso... e talvez um ou outro desabafo ocasional, como é este o caso!
Mas deixando de lado este amargo aviso à navegação, voltemos a coisas mais agradáveis. A quem vai dando nas vistas pelas melhores razões, também junto de novos públicos ou velhos públicos a necessitarem de serem de novo seduzidos para a literatura fantástica. É esse o caso da recente "entrevista" do
João Seixas à rádio
Antena 1.
Oiçam (programa de 20/07/09, de
Ana Aranha), é coisa rápida, nem chega a 5 minutitos do vosso tempo. E depois corram a comprar a antologia.
Serão estas iniciativas, e outras como esta, tomadas por membros da "velha-guarda" como João Seixas, ou da "nova vaga" como Roberto Mendes, Pedro Ventura, Joel Puga, Rui Baptista, Carla Ribeiro, e tantos outros, que nos trarão a possibilidade de irmos um pouco mais longe... vamos?
Charles N. Brown (1937-2009)
Charles N. Brown morreu.
Editor da mais emblemática revista na área do Fantástico, a
Locus - Magazine of the Science Fiction and Fantasy Field, tinha sido um dos seus fundadores em 1968, e o seu único editor desde 1977. Detentor de uma cultura vasta e versátil, deleitava os seus leitores todos os meses com a crónica "Editorial Matters", um misto de relatório de actividades, roteiro de viagens e observatório politicamente incorrecto. Sob a sua batuta, cada número transbordava de entrevistas, notícias, resenhas e outras informações interessantes; cobrindo sempre várias opiniões e pontos de vista.
Vencedor de inúmeros prémios, desde muito cedo fã de literatura fantástica, activo membro de convenções e produtor de fanzines, Charles N. Brown, com 72 anos, podia gabar-se de conhecer ou contactar com quase todas as pessoas relevantes do meio anglo-saxónico; escritores, editores e artistas. Além disso, dava uma atenção especial ao que se passava fora desse "mundo"; quer pelas inúmeras viagens, quer pela publicação periódica de
reports por entusiastas da Europa, Ásia e América do Sul.
Tenho pena de não o ter conhecido em 1996, quando
esteve em Portugal a convite dos Primeiros Encontros de Ficção Científica e Fantasia da Associação Simetria. O meu envolvimento com o
fandom nacional só começaria um ou dois anos depois. Conhecendo os seus escritos, e o que dele se conta, sinto que perdi uma oportunidade fabulosa.
A Locus continuará sem ele, agora liderada pela editora
Liza Groen Trombi, de 38 anos. Haverá certamente uma alteração de estilo, força da idade e do sexo. Não prevejo deixar de ser um leitor fiel. Não fosse esta a literatura das mudanças...
(Foto da autoria de
Cheryl Morgan)
O Sindroma Literário
Li os posts iniciais do blog
Império Terra, lançado pelo
Paulo Fonseca para apoiar a publicação do seu livro de estreia
Império Terra - O Princípio, na mesma altura em que li o livro. Como seria de esperar, o tom geral dos comentários colocados era de esperança e expectativa.
Passado cerca de um ano, e por causa de um
post no Correio do Fantástico, voltei ao blog do autor. O tom dos posts que lá foram colocados mais recentemente é diametralmente oposto dos anteriores. Para começar, uma desilusão desmedida. Mas, se fosse só isso, não me deixaria espantado como fiquei. Todos sabemos como a primeira obra é um investir de tempo e esforço, e do que vai de amor-próprio nessa empreitada. E que a função de escritor é inerentemente solitária, raras vezes recebendo um retorno de quem mais ansiaria - dos leitores. No entanto, já me se torna mais dificil compreender que se aludam a lobbies e cliques como a moinhos de Dom Quixote, forças e conluios que promovem muitos que não o merecem e que relegam novos valores ao esquecimento, sem antes lhes proporcionarem sequer uma hipótese justa de se medirem ao lado dos tais autores vácuos (a síntese é da minha responsabilidade, mas, espremido, foi isto que interpretei de posts como
este).
Não escamoteio que o "factor C" continua a ser importante. Mesmo não o tratando como um elemento perverso, obviamente o simples facto de haver algum tipo de conhecimento pessoal acaba indubitavelmente por permitir às relações profissionais um maior grau de proximidade e atenção. Mas a maior parte das pessoas envolvidas na edição são profissionais sérios. Que, no actual momento editorial português, até têm dado mostras de estarem ávidos por obras nacionais na área da fantasia e da ficção científica. Por isso se torna importante que um autor se saiba movimentar no meio em que escolheu escrever. Seja no meio editorial (e cada editora tem a sua vertente temática de receptividade) como no meio das comunidades de leitores (hoje, que a internet o permite).
Não serve de nada ao autor queixar-se do autismo de editores, livreiros e leitores, quando ele é o primeiro a estar surdo perante o mundo que lhe interessa "seduzir".
Talvez conhecer melhor o meio que pretende conquistar não fosse má ideia. Servia potencialmente para evitar dizer tamanhas enormidade como queixar-se de "Nesta guerra eu fui sabotado: os meus livros foram expostos por pouco tempo e em prateleiras viradas para o interior das livrarias.". Tomara à quase totalidade dos escritores portugueses do Fantástico terem os seus livros em destaque, de capa à vista nas prateleiras ao nível dos olhos (que, como se sabe, a seguir à montra e às ilhas, são os lugares mais favoráveis numa livraria!), durante várias semanas, em várias lojas da cadeia FNAC, como vi acontecer com este livro. Tenho visto nomes mais estabelecidos, como David Soares ou Filipe Faria, terem pouco mais do que isso!
Queixar-se de algo assim é falar de barriga cheia. É desconhecer como funciona o mercado. É querer entrar-se num negócio, mas não se querer pagar a taxa de admissão (ou alguém duvida que a boa promoção custa bom dinheiro?!). É não se ter consciência das próprias limitações. E, pior, é não se estar em posição de, objectivamente, se lidar com elas. Como advogariam aqui os Alcoólicos Anónimos, o primeiro passo para se ultrapassar um problema é reconhecer que o temos.
E estarão alguns a esta hora a querer perguntar-me: "Mas ao menos o livro é bom?". Porque afinal é de qualidade que se fala, não? Quanto à análise da obra, colo-me descaradamente à
resenha feita pelo
Nuno Fonseca, publicada no Orgia Literária (um site de referência, nem disso o autor se pode queixar!), e com a qual concordo plenamente, tanto nos pontos positivos como nos pontos negativos apontados à obra. Incluindo que a obra beneficiaria bastante da intervenção de um editor, o que infelizmente a Papiro Editora não parece ter feito. O que, na minha opinião, deixa o livro num estado em que dificilmente o veria publicado numa das editoras principais do nosso mercado (pelo menos não sem uma grande cunha, mas aí penso que o Paulo Fonseca estaria a dar este exemplo para advogar a eliminação da sua prática e não o seu alastramento).
Mas leiam a resenha, comprem e leiam o livro, tirem as vossas conclusões, e dêem-nas a conhecer ao autor. É um favor que lhe fazem.
Estou na Lua...
Aparentemente, tem sido grande o destaque dado à passagem dos 40 anos sobre a chegada do Homem à Lua. Talvez a escassez de mais aventuras espaciais explique o facto de apesar de múltiplo de 10, o que é sempre atraente, 40 não ser propriamente um número "redondo" a merecer bandeirinhas e fanfarras. Mas façamos a vontade a quem quer fazer a festa, já que pelo menos duas publicações nacionais dão destaque à relação da Ficção Científica com este facto histórico.
A Visão História dedica o seu nº5 inteiramente à conquista da Lua. Profusamente ilustrada, esta revista de 100 páginas relata o evento e as condições que o antecederam, assim como o seu impacto no Mundo, e particularmente na sociedade portuguesa da época.
Também o lado especulativo foi contemplado. Para além de um artigo sobre as Teorias da Conspiração que rodeiam a viagem da Apolo 11 (por Alexandra Correia), três artigos (6 páginas) são de especial relevância: "Com a cabeça na Lua", por Sara Belo Luís, aborda as viagens lunares literárias anteriores a 1969, com o contributo dos Professores Maria Luísa Malato Borralho e Carlos Fiolhais; "Armstrong ou Tintim?", por Luís Almeida Martins, reconhece a antecipação de Tintim, Milou e Companhia na chegada à Lua; e "Felizmente há luar", por Ana Margarida de Carvalho, sobre a influência da Lua no cinema.
A revista Os Meus Livros de Julho dedica 4 páginas ao tema. Num artigo assinado por João Seixas, intitulado "Um pequeno passo para a Ficção Científica", são enunciadas algumas das mais importantes obras literárias sobre viagens à Lua anteriores a 1969. O artigo destaca em caixa "Um português na Lua" o livro Os exploradores da Lua, escrito por Pedro Alves de Carvalho em 1968 (na Visão História, Maria Luísa Borralho dá destaque luso a O Balão aos Habitantes da Lua, de José Daniel Rodrigues da Costa (1819)).
É ainda de acrescentar a notícia do lançamento da antologia Com a Cabeça na Lua, da editora Saída de Emergência, com organização e anotações do próprio João Seixas. Fica aqui o convite, para o próximo dia 11.
As Guerreiras da Deusa contra-atacam... em breve!
Quem acompanha com alguma atenção o mercado editorial internacional na área da literatura do Fantástico terá certamente reparado, desde 2004, no crescimento cada vez mais acelerado de um sub-género particular, entretanto denominado
romance paranormal.
Independentemente (ou talvez por causa) das suas (múltiplas) raízes, dentro e fora do Fantástico, a verdade é que este tipo de narrativa tem conseguido aglomerar uma grande fatia de público. Tanto seja um público "jovem adulto", seduzido pelo seu conteúdo em romance e aventura, como um público mais adulto, talvez enfadado com o ênfase masculino da maior parte do Fantástico (fama igualmente merecida e imerecida!). Seja como for, a bola de neve já estava a acelerar ladeira abaixo quando a sua massa crítica foi aumentada pelo recente revivalismo mainstream do mito vampiro.
Por esta altura, o romance paranormal tinha já direito a um destaque especial, colonizando mesmo alguns autores que até aí se tinham identificado com o "rótulo" fantasia urbana.
Aumentando a exposição de uma temática, certo é que se aumenta a probabilidade de influenciar e fazer surgir novos autores dentro do género. Mais ainda num país, como Portugal, que é influenciado tão avassaladoramente pelas traduções de livros de origem anglo-saxónica. Assim, não é de estranhar o aparecimento de mais um autor nacional que se parece encaixar neste conceito.
Descrito pela editora como "uma fantasia moderna repleta de aventura, sensualidade e humor", Orbias segue o trajecto da jovem Noemi, confrontada com a revelação da sua própria natureza sobrenatural, pelo nosso mundo e pelo mundo paralelo que dá nome ao livro. Conveniente mistura de conceitos de fantasia e de ficção científica (que parece agradar particularmente aos autores nacionais, como, por exemplo, os casos anteriores de Inês Botelho e Frederico Duarte). Será também neste mundo paralelo que Noemi irá enfrentar, para além dos seus novos poderes e responsabilidades, os desafios colocados por Sebastien, um sedutor orbiano.
Aparentemente escrito na primeira pessoa, será certamente interessante ver como o autor se conseguiu colocar na pele da personagem principal. Não teremos de esperar muito, o lançamento está previsto para Setembro.
MOTELx 2009
O
MOTELx 2009 já anda nas bocas do mundo. Pelo
concurso de curtas de horror; e pelo
novo blogue, onde se pretende que cada leitor partilhe "experiências marcantes com filmes de terror". O realizador
Filipe Melo, conhecido pela curta
I'll see you in my dreams, abriu as hostilidades.
De relembrar que o MOTELx 2009 ocorrerá de 2 a 6 de Setembro, no Cinema São Jorge.
Quem não vê, é como quem não sabe...
Não, o ditado popular não está ao contrário. É mesmo propositado. Vem isto a propósito da promoção que a Editorial Presença está a fazer do livro
A Mulher do Viajante no Tempo. Mais precisamente 30% de desconto, no seu
site de vendas, até 10 de Julho.
Esta primeira obra da norte-americana Audrey Niffenegger, editada originalmente em 2003, acabou por se revelar uma agradável fusão entre a ficção científica hard e o romance. Penso que é precisamente esse tom leve mas rigoroso que torna este livro num presente ideal para quem se queira iniciar na ficção científica.
A promoção, anunciada exclusivamente através do Facebook da editora, pode também ser entendida como uma chamada de atenção para a adaptação cinematográfica prestes a estrear nas nossas salas (e cujo trailer peca por contar demasiado da história!). Mas, seja como for, esta é uma desculpa tão boa como outra qualquer para adquirir, e ler, este livro.