terça-feira, maio 25, 2010

BANG #7 disponível para download gratuito


Quando se começam a prometer pormenores para a BANG #8, a edição anterior, que marcou o retorno ao formato papel, passou a estar disponível em formato electrónico para download gratuito.

Resta relembrar que este número da revista foi já alvo de uma resenha aqui.

domingo, maio 16, 2010

A Noite e o Sobressalto - Resenha


A Noite e o Sobressalto é a obra de estreia de Pedro Medina Ribeiro. Sete contos, maturados ao longo de sete anos, que constituem uma muito auspiciosa entrada na literatura fantástica nacional.

Cognominado como “sete histórias de mistério”, é constituído por narrativas fantásticas na sua veia mais tradicional do séc. XIX, nomeadamente nos contos de autores como ETA Hoffmann ou Edgar Allan Poe. Mas indiferentemente das suas inspirações, Pedro Medina Ribeiro mostra-se capaz de produzir uma ambiência sequencialmente familiar e macabra com uma invejável economia de palavras. Como se espera da ficção curta, todos estes contos se apoiam numa rápida empatia do leitor com as mundaneidades e, posteriormente, com as peripécias das personagens principais; em narrativas que privilegiam o relato na primeira pessoa.

Também a escolha de cenário se revela bastante eclética, e em todos os casos eficaz. Seja a relatar a Berlim do início do séc. XX, Praga ou Londres no séc. XIX, a época medieval, ou o Alentejo presente.

A colectânea abre com “A Séance”, onde Herr Bernhardt nos brinda no início do conto com uma mudança de paradigma bem real, entre a Religião e a Matemática, através da qual o autor habilmente nos prepara para a montanha-russa que se segue; pois em breve o protagonista pode estar perante uma nova alteração da sua percepção da realidade.
Uma sessão espírita entre a elite rica e esclarecida de Berlim serve de mote a esta história que, como um conto policial, nos faz pender de convicção em convicção, oscilando entre explicações paranormais e terrenas.

“A Face Obscura da Lua” lê-se como um tributo às obras clássicas de cinema com monstros dos anos 30. Aqui se encontra a mansão no meio da floresta num país do leste europeu, o monstro, a mole de camponeses em fúria, a destruição a meio da noite, etc. A isto acrescenta-se uma testemunha involuntária.

“O Caminheiro” e “O Monstro Marinho” são narrativas de “casos” que valem pela forma como gerem a tensão até à sua conclusão.

“Mandrágora”, provavelmente o meu conto preferido da colectânea, seguido de perto pelo “A Séance” e “Post Mortem”, surpreende-nos, num ambiente de crendice medieval, com uma história de horror puramente humano.

“Post Mortem”, que foca a tragédia do suicídio no Alentejo, apesar de numa forma bem peculiar, é porventura o conto que mais se identifica com um literal murro no estômago do leitor. Arrepiante!

“A Herança”, último conto, retorna ao tom policial, na perseguição ao possível culpado por lançar uma maldição. Uma história invulgar, a citar Dickens mas a lembrar Conan Doyle, contada por um personagem que nos assevera continuamente da sua singeleza. À semelhança dos contos anteriores, aqui a riqueza das personagens faz muito por elevar a história.

Numa avaliação global, é brilhante esta estreia de Pedro Medina Ribeiro. Pelo tratamento do material fantástico, pela coerência e consistência das histórias, dos cenários, e das personagens. Perante este início, pela sua força e qualidade, empalidecem inúmeras queixas de aspirantes a autores que melhor fariam em olhar para o que lhes falta melhorar ao invés da atenção que julgam ser-lhes devida.
Pedro Medina Ribeiro é, sem dúvida, um autor a seguir em próximas obras.

Sermão aos Peixes


A recente realização de um debate sobre literatura fantástica na Feira do Livro de Lisboa voltou a dar azo a alguns comentários da vox populi em relação à questão dos novos autores. Mesmo compreendendo algum sentimento de frustração quanto às dificuldades de acesso à publicação, ao que isso expõe os potenciais autores aos esquemas menos honestos de vanity presses, à falta de visibilidade publicitária dos que realmente chegam às editoras, não posso deixar de reparar no contraste entre a ligeireza de alguns dos comentários e o que apreendo como a realidade (até internacional) do fenómeno. Ainda mais pela tarefa de resenhar a colectânea de estreia de Pedro Medina Ribeiro, que me suscitou muitas das considerações que pretendo tecer sobre o assunto; mas que separarei deste post, por não pretender reduzir o seu livro a estas polémicas.

O debate, que pode ser ouvido aqui (cortesia do Ricardo Lourenço), tinha por tema "Bruxas, Vampiros e Zombies", e, por convidados, os editores Luís Corte-Real (Saída de Emergência), Joana Neves (Contraponto) e Pedro Reisinho (Gailivro), e a “leitora” Sofia Teixeira (blog Morrighan). Moderado pelo jornalista Luís Caetano (RDP), a conversa centrou-se exactamente no que se poderia esperar do tema atribuído: as modas actuais da literatura fantástica.

Perante a forte componente editorial do painel, nomeadamente por duas das três principais editoras do género em Portugal (SdE e Gailivro – pena que não tenha também participado a Presença, ou que sobre ela não se tivesse tecido algum comentário, resta saber se por vontade própria ou por falta de convite), e por uma editora em que o género é aposta recente e crescente, seria muito difícil que as opiniões não se centrassem nas problemáticas de mercado que explicam o actual momento da literatura fantástica; com particular sublinhar nas obras dos catálogos das editoras presentes. Restou à “leitora” o inglório papel de representar um campo absolutamente heterogéneo, que perante o influxo de obras estrangeiras se interroga por vezes se não haveria mais espaço para os autores nacionais.

Há que ter alguma noção que o mundo editorial não escapa aos fenómenos vigentes em toda a economia e mundo empresarial. As equipas editoriais são cada vez mais pequenas, cada vez se publicam mais livros; o somatório é de cada vez menos disponibilidade para o trabalho “de sapa” necessário à preparação de um manuscrito para publicação. Assim, não deveria ser de admirar a preponderância das obras estrangeiras, nem sempre brilhantes do ponto de vista literário, mas ao menos competentes do ponto de vista formal, e muitas vezes com um ímpeto publicitário de notar. Ao editor basta uma decisão comercial, de tentar antever se aquela obra resultará em vendas no mercado nacional; decisão que é muitas vezes facilitada pelo sucesso anterior noutros mercados.

Erradamente, muitas pessoas, especialmente potenciais autores, vêem nisto uma preguiça e uma má-vontade dos editores para com a produção nacional. Nada mais falso!
Mantendo a visão do editor actual como um homem de negócios, nada seria mais atractivo que a existência de um mercado nacional pujante para a literatura fantástica de produção nacional. Representaria uma poupança nas traduções, na compra de manuscritos de preços muitas vezes inflacionados por campanhas internacionais e por concorrências editoriais, uma oportunidade de maximizar a relação entre autores e leitores, entre outras vantagens. Mas para isto é necessária a existência de boa matéria-prima.
Costuma apontar-se, para caracterizar a má-vontade dos editores, que por vezes apenas são avaliadas as primeiras páginas de um manuscrito, antes do mesmo ser rejeitado. Não devia ser surpresa para ninguém que as primeiras páginas de uma obra funcionam como o seu cartão-de-visita; nelas o potencial leitor é agarrado ao fio da história, ou é perdido para sempre. O mesmo acontece com o editor. É que, convenhamos, escritor que não tem a percepção da necessidade de apostar neste segmento da obra, não tem consciência do que é escrever um livro para ser lido (e vendido!).
Neste ambiente, os potenciais escritores confundem muitas vezes as características inerentes aos editores. Não é a eles que cabe ajudar o autor a melhorar a “mecânica” da sua escrita, a tão comum má escrita do português. Isso cabe ao próprio escritor, a aulas, a oficinas e cursos de escrita, aos amigos que deviam dar opiniões sinceras e não apenas palmadinhas nas costas. Nem o revisor é a panaceia para todas as incapacidades; não é a ele que cabe reescrever um manuscrito em bom português!

Quando uma obra está bem escrita, seja o seu pendor literário ou de entretenimento (ou ambos), duvido que não haja hoje em dia pelo menos uma das editoras nacionais que não a tenha em consideração. Ao contrário, assistimos a oportunidades perdidas, como o Prémio Bang!, da SdE, onde nenhuma obra se conseguiu enquadrar nos padrões temáticos e de qualidade exigidos (e que no entanto proporcionou a alguns autores a publicação no posterior lançamento da colecção Teen, da mesma editora).

Claro que nem tudo o que vem de fora é mais interessante do que o que se faz cá dentro, mas a eficácia da publicidade não é de desprezar. Nisso, em grande medida, reside também um dos calcanhares de Aquiles dos autores nacionais. Existe nomeadamente ainda uma ineficácia em utilizar as novas tecnologias para potenciar a criação/fidelização de públicos. Quantos dos novos autores possuem locais oficiais na net, com informação própria e excertos das suas obras apresentados de uma forma atractiva? Quantos se esforçam por mostrar aos leitores o trabalho que está por detrás dos seus universos criados? Trata-se das mais básicas regras de marketing e, é de bom-senso, que um escritor que consiga criar o seu próprio público será considerado de forma mais interessada por uma editora.

Não se pense que a crítica anterior se limita aos novos autores. Também os mais “estabelecidos” necessitariam de um pouco de Red Bull neste departamento. Afinal, não se distingue a literatura fantástica por um certo sentido de comunidade? Mesmo num meio cada vez mais fragmentado, mais ainda pela sua expansão para o (ou, absorção pelo) mainstream.

Mas voltando aos novos escritores, e à queixa que não são suficientemente motivados pelos leitores/editores/críticos, permitam-me uma comparação com o meio anglo-saxónico. A revista Locus, regista, no seu balanço do ano de 2009, a publicação de 94 primeiras obras de literatura fantástica, ou seja, estreias de novos escritores. Dessas, a revista aconselha a leitura de apenas 14; ou seja, 15%!
Isto passa-se num universo onde existe, ainda, um culto à construção da carreira de um escritor, a existência de inúmeras oficinas e cursos de escrita, várias revistas dedicadas à ficção curta de género, reconhecida como uma escola de escrita por excelência.
Claro que aqui se premiará mais do que a competência da escrita, distanciando o patamar do que estamos a analisar no caso nacional, mas não deixa de ser um exemplo de como a distinção é duplamente valorizada quando é exclusiva ao invés de genericamente inclusiva.

Por último, voltamos às características mais básicas associadas com a escrita de literatura fantástica. Primeiro, a própria escrita em si. Para uma comunicação adequada, e para impedir que o leitor, mesmo tendo interesse na história, não se canse da leitura pela quantidade de erros de ortografia e estrutura que a podem assolar. Segundo, por um conhecimento, mesmo que lato, do que é o próprio género. Mesmo querendo evitar a excessiva auto-referenciação que tem colocado, principalmente a ficção científica, a falar um pouco sozinha, há que ter uma noção da história geral e das temáticas tratadas pelo género no passado e no presente. Depois, ter a consciência que ser um autor publicado é entrar num mundo de negócios. Portanto, há que ter uma atitude profissional (mesmo que a escrita seja um part-time!). Por último, ignorar a tradição da literatura fantástica é arriscar a cair no ridículo; por se “reinventar a roda”, por se violar a consistência dos universos criados, etc. E para isso, torna-se essencial a leitura; não só do livro derivativo do momento, mas essencialmente do clássico que lhe deu origem.

Quanto à resenha sobre a (fabulosa) estreia do Pedro Medina Ribeiro, que despoletou todas estas considerações, fica prometida para breve.

segunda-feira, maio 10, 2010

Crepúsculo Novela Gráfica - Resenha


Figura central no recente debate sobre Literatura Fantástica promovido pela Feira do Livro de Lisboa, Stephenie Meyer e a sua saga Crepúsculo continua a dar que falar. Independentemente da discussão sobre a sua excessiva ou não importância nesse debate (visível aqui e aqui), a marca lá vai tentando alargar a sua área de influência, almejando penetrar em novos nichos de mercado.

Se os livros originais revelam algumas fragilidades, acentuadas nas adaptações cinematográficas, o lançamento da adaptação em banda desenhada, Crepúsculo - A Novela Gráfica, apesar de espartilhada pela história base, revela-se possivelmente mais interessante, através da arte e da estrutura narrativa de Young Kim, uma estreante artista sul-coreana.

Aqui serão críticas a tradição gráfica das mangas asiáticas, e a sua capacidade de contar as histórias de uma forma sensivelmente diferente da ocidental.

A publicação nacional é de luxo, sendo incluída pela Gailivro na sua colecção 1001 Mundos. Apesar do preço e de ser apenas o volume 1, será uma curiosidade para os leitores veteranos da série, e talvez seja uma revelação para os que não se sentiram atraídos por ela até agora.

domingo, maio 09, 2010

Domingo na Feira do Livro

Ontem a Feira do Livro foi um manancial de boas e más surpresas. Boas, pela quantidade de escritores e leitores que, apesar da chuva forte, lá foram arranjando uns cantinhos secos para se manterem à conversa. Mais prolongado ou mais de raspão, foi uma oportunidade para falar com a Madalena Santos, Paulo Moinhos, Sofia Teixeira, Milene Emídio, João Seixas, Safaa Dib, Ricardo Pinto, Inês Mourão, Luís Filipe Silva, Frederico Duarte, Fábio Ventura, Samuel Pimenta, entre outros. Más, pelo inexplicável desnorte da organização da Feira do Livro (APEL) e pelo total desrespeito por editoras, autores e visitantes. Uma absoluta vergonha para um evento desta envergadura!

De qualquer maneira, parece que hoje o sol já está com mais vontade de contrariar a chuva, e, talvez uma boa noite de sono tenha martelado algum bom-senso e organização em quem de direito. Assim, por mim, será mais um dia de Feira...

A partir das 15:00, J. Pedro Baltasar volta a autografar o seu livro de estreia, Jaguar (Porto Editora). Uma falha de ontem que quero colmatar hoje.

Às 16:00, no espaço APEL, debate sobre Literatura Fantástica, com Pedro Reisinho (Gailivro), Luís Corte-Real (Saída de Emergência), Joana Neves (Contraponto) e Sofia Teixeira (blog Morrighan); moderado por Luís Caetano.

Também à mesma hora (oh, sorte!), na Praça Leya, o Afonso Cruz volta a estar disponível para uma sessão de autógrafos. Será que é hoje que o apanho?!

sábado, maio 08, 2010

Dia Louco na Feira do Livro


Como se não bastasse a promessa de um dia movimentado na Feira do Livro, chove copiosamente na região de Lisboa. Mas, realmente, os lançamentos e sessões de autógrafos na área do Fantástico anunciados para este sábado são de não perder.

Quero ver se lá estou no máximo às 15:30, para a sessão de autógrafos da Madalena Santos, autora da saga Terras de Corza (Praça Leya, ed. Gailivro). Uma última oportunidade de indagar pormenores sobre o último livro da série, a ser publicado em Julho.

Logo a seguir, a presença principal do dia. Às 16:00, no Espaço EDP, o "igloo" localizado na entrada inferior da Feira, o autor (internacional) Ricardo Pinto irá fazer o lançamento de Terceiro Deus, conclusão há muito esperada da sua série A Dança de Pedra do Camaleão. Factor acrescido de interesse, o lançamento será apresentado pelo crítico e autor João Seixas, num evento organizado pela Editorial Presença e pelo Fórum Fantástico.

Findo o lançamento, ainda terei tempo para um salto à sessão de autógrafos do Samuel Pimenta, que se estreou recentemente com O Escolhido (Planeta Editora).

E ainda, no stand da editora Planeta, Mário Zambujal conversa e autografa o seu livro Uma Noite não são Dias. Apesar de não ter conseguido entrar bem nesta alegoria futurista, vou tentar não falhar a oportunidade.

Depois, é de volta à Praça Leya. A partir das 16:30, o Afonso Cruz, autor, entre outros, da fabulosa Enciclopédia da Estória Universal, está disponível para um autógrafo e um dedo de conversa. A ver se compro um dos seus outros livros nessa altura.

Às 17:00, nova oportunidade de trocar impressões sobre fantasia épica, com Ricardo Pinto, agora numa sessão de autógrafos perto do stand da Presença, acompanhado pelo também autor Filipe Faria.

A partir da mesma hora, novamente na Praça Leya, começa a sessão de autógrafos de Fábio Ventura, autor da saga Orbias (brevemente no seu segundo volume).

Uma tarde bem ocupada, que a chuva não irá assustar.