New Scientist Sci-fi: Edição especial e Concurso de mini-contos
A edição desta semana da revista de divulgação científica
New Scientist contém um dossiê especial dedicado à ficção científica. Para além de ensaios sobre o Estado da Nação, a revista apresenta mini-contos e criticas a livros. Os participantes são autores de peso:
Kim Stanley Robinson,
Geoff Ryman,
Ken MacLeod,
Ian McDonald,
Nicola Griffith,
Stephen Baxter,
Paul McAuley,
Ian Watson e
Justina Robson.
Acresce que a New Scientist aproveitou para
lançar um concurso de mini-contos (< 350 palavras), em inglês, com a data limite de 15 de Outubro.
Para quem não quiser comprar a revista, disponível em Portugal em muitas livrarias e papelarias, pode aceder ao seu conteúdo,
aqui.
Bons inícios...
As a publisher, I never forget seeing the typescript of Ken MacLeod’s debut, The Star Fraction. I knew from two pages in that it was truly wonderful,[...]
Vem esta citação a dois propósitos.
Primeiro, faz parte da uma interessante
entrevista feita a
John Jarrold, provavelmente um dos mais conhecidos agentes literários dentro da literatura fantástica anglo-saxónica. Ao contrário do que acontece no panorama lusitano, à generalidade dos autores de língua inglesa é incutida a necessidade da função de agente/editor como alguém que, com um olhar estritamente profissional, consegue poupar os escritores de alguns escolhos mais comuns, tornando ao mesmo tempo a obra mais acessível ao público-alvo (e, meus amigos, não me venham criticar o aspecto "comercial", que quem quer escrever só para si, que escreva para a gaveta!).
Segundo, vem a propósito de andar a ler o
Orbias - As Guerreiras da Deusa, do estreante
Fábio Ventura. Nunca será demais sublinhar, como refere John Jarrold, que o início de qualquer livro funciona como a sua montra. Quem está habituado ao género, consegue avaliar em poucas páginas a competência da escrita, o ritmo da narrativa, o mérito da obra. Quem lê com frequência, tem provavelmente vários livros em lista de espera, e pouca paciência para perder tempo em obras menores. Assim, tornou-se conselho comum para os autores mais inexperientes que as primeiras páginas de um livro devem merecer especial atenção, como se da abertura de uma ópera se tratassem. Ora, este conselho tem tanto de batido como de ignorado. E no caso do Orbias, este "pecado" parece ter sido duplo.
O início do livro tem diálogos pobres, formulaicos, de uma inacreditável lamechice. A descrição é surreal (quem o tiver começado a ler apanha o trocadilho), as situações são forçadas, a "voz interior" dos personagens é inconsistente e errática na forma como interage com as situações. E, no entanto, à medida que se vai avançando no livro a coisa parece começar a melhorar ligeiramente. Apesar de não ter entrado ainda muito no livro, esta desconfiança vai de encontro à opinião da
Joana Cardoso, que
já o terminou.
A minha questão primária aqui é que, se não fosse pela minha motivação adicional de ler um novo escritor português de literatura fantástica, o que já li do livro até agora ter-me-ia feito nunca o comprar. Independentemente da "pérola" que poderá estar, ou não, ainda por vir nas páginas restantes. E isso, para alguém que tenciona ser um autor publicado, não será propriamente a melhor coisa...
Não ganhou...
... mas devia!
Menção honrosa no concurso de curtas do
MOTELx,
Papá Wrestling, de
Fernando Alle, pode ser vista no
youtube.
Divirtam-se!
E não percam o
F.R.U.N.C., de
Paulo Prazeres, também disponível num
youtube perto de si.
Spreading the disease...
Nesta era de epidemias infecto-contagiosas, eis que surge mais uma para lançar a nossa sociedade em pânico. A particularidade desta virulência, que se tornará certamente na pandemia da moda, é que foi inteiramente produzida num laboratório nacional, por uma agremiação de cientistas loucos.
Estima-se que o ponto zero da sua dispersão tenha sido o festival de cinema de terror de Lisboa, o MOTELx. O Ministério da Saúde tomou já conta da ocorrência, e prepara uma campanha publicitária para maximizar a exposição de todos os cidadãos a esta maleita. Mas porquê esperar? Entregue-se
JÁ ao prazer...
Banha-da-cobra, encadernada a pele e com letras a ouro...
Depois de uma fase em que me surpreendi com a desfaçatez de algumas pequenas editoras nacionais, as chamadas
vanity presses, maior tem sido a minha perplexidade perante a divulgação mediática (demasiadas vezes até "jornalística"!) com que várias editoras POD (
print on demand) têm sido recebidas no mercado nacional.
Sabe-se que vivemos numa época em que a crescente facilidade de publicação permite a alguns autores sonharem com essa avenida de realização pessoal. Que haja quem disso faça negócio não será necessariamente mau. Que essas mesmas pessoas usem subterfúgios, e se escondam ardilosamente atrás da palavra "gratuito", e que isso sirva de chamariz para depois se pregar um
pack milagroso, mas não gratuito, supostamente capaz de limar as arestas que se interpõe entre o imberbe candidato e a perfeição do seu manuscrito, já não será de todo perdoável.
Mas melhor que eu, a
Safaa Dib, assistente editorial da editora Saída de Emergência,
partilha a sua visão sobre o assunto. Concisa e clarificadora, dá-nos uma descrição detalhada, e exemplificadora, do que se pode esperar de uma dessas empresas. E não me admiraria se houvessem mais escolhos à espera dos incautos...
Curto diálogo...
Mário: "Lo secreto está na palha!"
Luigi: "Não, lo secreto está na bomba!"
Mário: "Na palha!"
Luigi: "Na bomba!"
Mário: "Na palha!"
...
(ou, como o "Sangue Frio" ganhou o Prémio Curtas MOTELx 2009!)
O retorno do Voyager
Depois de um prolongado, e merecido, descanso, o projecto
Voyager está de volta, mantendo a qualidade já demonstrada anteriormente.
Construído como uma antologia de "episódios" de uma prancha só, o Voyager lança agora o seu
11º capítulo, com argumento de
Rui Ramos e arte de
Fernando Madeira.
Curtas PT @ MOTELx 2009 (parte III)
Último dia dos compactos de curtas MOTELx; um dia para o melhor e para o pior.
As particularidades de
Vídeo Recebido, de
Adriano Mendes, podiam ter ajudado a criar uma curta original e interessante. Depressa mostrou que afinal não, era só impressão!
Homem Violento, de
Pedro Florêncio, acaba por conseguir manter-se consistente quase até ao final, mesmo tratando-se de uma violência aparentemente sem sentido. A conclusão, desconstrutora, infelizmente não mantém o mesmo nível.
Em
Sangue Frio, de
Patrick Mendes, as escolhas narrativas acabaram por limitar uma curta com potencialidade para uma maior qualidade. Tendo o realizador assinado também o argumento, é uma pena ver uma boa ideia sair assim um pouco desperdiçada. Fica a noção clara que se podia ter saido melhor!
Reborn, de
António Pascoalinho, deixou um sabor a pouco na boca. A história tornou-se envolvente, e muito do mistério manteve-se inexplicado. Exige-se uma sequela! Apenas o plano final pareceu supérfluo, não transmitindo qualquer sentido.
E a última curta exibida,
Papá Wrestling, de
Fernando Alle, encerrou da melhor maneira esta iniciativa do MOTELx. Com o seu delicioso ar
campy, esta história de violência juvenil soube dosear bem o humor, os efeitos especiais, e a acção. Um delírio!
Resta-me dar os parabéns à organização do
MOTELx pelo claro sucesso desta iniciativa, maior ainda sabendo que várias das curtas tiveram o festival de terror de Lisboa como fenómeno indutor. Aposta ganha!
Quanto às curtas em si, e não sabendo ainda qual terá sido a escolha do júri, destaco três (coincidentemente uma de cada dia):
F.R.U.N.C., pela sua eficácia sintética;
No Silêncio, pela intensidade transmitida; e
Papá Wrestling, pelo seu humor dinâmico.
Curtas PT @ MOTELx 2009 (parte II)
Ontem, segundo dia de compactos curtas MOTELx. Novamente várias razões positivas de surpresa.
Para início,
And From Now on There Should Be No More Wolves, sub-entitulado
O Caçador, de
Joana Linda, fez-me pensar por momentos que a actual moda vampírica tinha finalmente chegado ao cinema luso. Afinal fiquei na dúvida, já que a curta não tem uma linha narrativa clara. No entanto, é um exercício adequado de estética e angústia melancólica.
No Silêncio, realizado por
Pedro Rodrigues, é um daqueles filmes que se nos cola, no qual ficamos a pensar bem depois de abandonar a sala do São Jorge. Longe de uma violência gratuita, coloca-nos perante o dilema da insatisfação que nos pode assaltar perante o realizar de uma vingança, mesmo que merecida. A frustação que esse acto garante, perante a impossibilidade de remediar o mal que nos foi feito, é um dos sentimentos que foram transmitidos com sucesso nesta curta.
Fruto de um trabalho de fim de curso realizado na Universidade dos Açores,
Shadows - Viagem ao Inferno, de
Miguel Machado,
Luís Parreira,
Nuno Guedes e
Iuri Braga, segue a história de quatro amigos que, em viagem, encostam o carro perto de uma casa abandonada. Certamente um tributo a
slasher movies como Halloween, esta curta acaba por denunciar demasiada ingenuidade técnica e narrativa, tendo posto a audiência a rir, acredito que nem sempre pelas razões pretendidas.
Para terminar este segundo compacto,
Soy un Hombre Sincero, de
Jaime Freitas, foi competente a gerir a tensão fantástica gerada por uma casa amaldiçoada, e muito sangrenta, num bairro histórico de Lisboa.
Hoje há mais, às 15h, no Cinema São Jorge, em Lisboa. Apareçam!
Lua cheia
Semana em cheio tem tido certamente
João Seixas. Depois da
entrevista, conduzida por
Pedro Justino Alves, publicada pelo
Diário Digital, surge agora no jornal
Expresso uma crítica positiva à antologia
Com a cabeça na Lua.
Numa análise de
José Guardado Moreira, retém-se a conclusão: "[...] vale a pena embarcar nesta viagem.". Polegares para cima,
we have ignition!
Avassaladora!
"Avassaladora" é o mínimo que se pode chamar à crónica sobre a tetralogia vampírica de
Stephanie Meyer publicada este sábado no caderno Actual do jornal
Expresso. Da autoria de
Rogério Casanova, são passadas em revista algumas das características das quatro obras que compõem esta série:
Crespúsculo,
Lua Nova,
Eclipse e
Amanhecer; com especial atenção para o estilo de escrita da autora.
Recheada de comentários mordazes, que nos arrancam um sorriso quase a cada parágrafo, esta crónica intitulada "Sangue simples" lança um olhar céptico sobre toda a série, e sobre a autora.
Só é pena que as suas conclusões finais não possam ter sido enriquecidas com a opinião que o escritor
David Soares veiculava há algum tempo, genericamente, sobre as recentes obras sobre vampiros: "Os adolescentes querem ler sobre os seus problemas, volto a dizer. Ter vampiros como personagens, ou beterrabas antropomórficas, é acidental. O que interessa é o plot liceal, cheio de inuendos sexuais, em que existe a promessa de se encontrar alguém especial porque tanto o protagonista (e, por mimetismo, o leitor) é muito especial.".
Aí residirá (grande) parte do segredo do sucesso desta saga. E, para o público adolescente e algum do adulto, isso será sempre o aspecto mais valorizado...
Curtas PT @ MOTELx 2009 (parte I)
A organização do
MOTELx 2009 achou que esta 3ªedição do festival era a altura certa para lançar um concurso de curtas-metragens de produção nacional. Deste repto resultou a escolha de 14 curtas que, para além de serem apresentadas como introdução a várias das longas-metragens programadas, foram divididas em 3 "compactos".
Hoje, às 15h, foi exibido o primeiro desses compactos; no qual participaram 5 curtas.
Em 3 minutos apenas,
F.R.U.N.C., realizado por
Paulo Prazeres, revelou-se um prodígio de síntese, de algumas das características do género de terror e também de boa disposição. A adicionar a isto, esta ameaça vinda do Espaço foi complementada por uma sequência de créditos final "histórica" que faz os delírios de qualquer fã de Lovecraft, Hellboy, e quejandos.
Introduzido em servo-croata,
Ljubav, de
Casimir Nikodin, remete-nos para o universo dos
mockumentaries, neste caso com um conjunto de experiências filmadas num Instituto de Investigação Parapsicológica de Leste. O restante da curta é mostrado sem diálogos, baseado numa estética de cinema mais experimental. Para mim, o segundo excerto terá sido o mais engajador. Nota alta para a ambiência criada pela trilha sonora, fortemente suportada em vocalizações.
A Aposta, realizada por
Vasco Sequeira, revela também uma generosa dose de bom-humor. Pena que alguns saltos na passagem entre cenas e nos diálogos causem por vezes alguma estranheza. No entanto, no balanço final, esses factos não diminuem o prazer (literalmente!) induzido por esta história entre uma amante (trocadilho intencional) do género de terror e uma céptica desses filmes.
Realizada por
João Vasconcelos,
Traum Zebni é uma curta que tenta desafiar a nossa noção de realidade. Não discutindo o sucesso ou não da tentativa de transmitir essa impressão ao espectador, o final consegue redimir o filme com um monólogo deliciosamente banal, mas que nos leva a repercussões fantásticas.
A última curta,
X, de
Jorge Cramez, acaba por ser também noutros aspectos o inverso da primeira curta da sessão. Acredito que os seus 30 minutos de duração estejam repletos de piscadelas de olho a
trivia de terror, e de
private jokes, mas, para este "espectador comum", a primeira metade do filme torna-se maçadora, mesmo que o "assassino" seja particulamente pitoresco. O volte-face é também demasiado elaborado, tendo sido preferível deixar a acção decorrer por si própria, ao invés de explicar com antecedência tudo o que iria ocorrer. No entanto, mais uma vez, o final consegue ser redentor da curta, especialmente em relação a algumas subtilezas no diálogo.
Amanhã, sábado, há mais. Às 15h, no Cinema São Jorge. Apareçam!
Este, abre o apetite...
... vamos lá ver se depois de lhe espetar o dente ainda mantenho a opinião.
A publicar pela
Porto Editora, em fins de Outubro. Com coordenação de
Pedro Sena-Lino, e contos de
Ana Paula Tavares,
Gonçalo M. Tavares,
Hélia Correia,
João Tordo,
Jorge Reis-Sá,
José Eduardo Agualusa,
Miguel Esteves Cardoso,
Rui Zink e
Susana Caldeira Cabaço.
E as revistas literárias...
Assunto particularmente relevante, recente que é o lançamento da
Dagon, a existência de revistas literárias, em papel ou virtuais, é sumariamente aludido num artigo de
Diana Garrido,
publicado hoje no jornal i.
Intitulado "O vício da literatura: em revistas e sem lucro", este curto artigo utiliza os exemplos da revista
Callema e do site
Orgia Literária, que me parecem facilmente transponíveis para o que é a realidade da generalidade destes projectos em Portugal.
"A partir do momento em que viemos a público, adquirimos um dever cívico: temos o dever de fazer ler, pensar e escrever.", é uma frase marcante da entrevista a Rui Alberto, criador da
Callema. Será porventura esse o principal objectivo de uma revista literária: para além de proporcionar um espaço que estimule a leitura e a escrita, muito além de romances e colectâneas, levar à discussão do que se lê e do que se escreve.
Uma nota final para reconhecer o trabalho de
Nuno Fonseca, habitual crítico de literatura fantástica no
Orgia Literária.
Família FC?
Estaremos a assistir ao nascimento de uma família FC (ficção científica) na literatura nacional? É essa a impressão que fica da entrevista a
Mário Zambujal, publicada recentemente no suplemento cultural
Ípsilon.
Numa conversa conduzida por
Hélder Beja, Mário Zambujal fala um pouco do seu próximo livro,
Uma Noite não são Dias, a ser lançado brevemente pela Planeta Editora; um livro a fazer muito lembrar as fantasias científicas escritas em Portugal no princípio do século XX, pejadas de crítica social.
Neste artigo ficamos também a saber que o filho do escritor, Rui, prepara-se para lançar ainda este ano o livro
2009-2049, 40 Anos de Montanha Russa. A julgar pela descrição, uma obra de especulação fortemente científica.
Podemos ou não estar perante a revelação de uma famíla FC, mas que devem ser uns bons malandros disso tenho poucas dúvidas!